quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

0686) As grandes viradas (31.5.2005)



Não pude ver a final da Copa dos Campeões da Europa, entre Milan e Liverpool. É um campeonato que me consola da obrigação de ver as peladas do Flamengo. Fiquei meio jururu depois que o Barcelona foi eliminado pelo Chelsea, e o Real Madrid pelo Juventus. Acabei torcendo pelo Milan, menos pelo time (que para mim continua sendo o time de Sílvio Berlusconi, aquela mistura de Don Corleone com Sílvio Santos) do que pelos brasileiros Dida, Cafu e Kaká. O jogo final em 25 de maio, na Turquia, foi para ficar na história. Imagino que o Nordeste “tá assim” de cantadores de viola aproveitando para rimar Istambul com Liverpool.

O Milan botou 3x0 no primeiro tempo e achou que o jogo estava ganho. No segundo, o Liverpool partiu pra cima deles “do jeito que a vaca partiu pra mestre Alfredo”, e aos 15 minutos já tinha empatado em 3x3. Foram para os pênaltis, e de nada adiantou Dida defender um, porque o goleiro do Liverpool, o tal de Dudek, defendeu dois e fim de papo. Acabei gostando do resultado, porque afinal de contas a taça foi morar perto de Penny Lane e do Cavern Club. E porque o Liverpool, apesar do ser o tipo do time que não gosto (que quando faz um gol fica só se defendendo), foi capaz de uma reação espantosa.

E aqui pra nós, tem algo de errado com um time que bota 3x0 e depois deixa o outro empatar, como fez o Milan. No ano passado, o Atlético Paranaense vinha de vento em popa na liderança, aí foi jogar com o Grêmio, que estava quase rebaixado, e saiu de um 3x0 a favor para um 3x3. A gente percebe que o time não tem muita firmeza, mesmo que seja tecnicamente superior, com elenco melhor e tudo. Deixar escapar uma vantagem de 3 gols não tem perdão.

Já falei aqui de grandes viradas no esporte – ver “Numerologia e futebol”, 10.2.2004; e “O mistério do esporte”, 5.11.2004. São aquelas situações-limite em que tudo parece estar perdido para um time, o adversário já começa a jogar beijinhos para a arquibancada, mas ele vai buscar energias sabe-se lá onde, e escala a ladeira do placar, até empatar e/ou virar o jogo. Houve um jogo de Ronaldo pelo Barcelona em que, se bem me lembro, o time saiu perdendo de 5x0 no 1o. tempo, e no vestiário um dos caras do Barcelona falou para ele: “Você não é o melhor do mundo? Então vai lá e vira esse jogo”. Os times voltaram a campo, Ronaldo fez os dois primeiros gols, e o jogo foi 5x5.

Não é só no futebol. Não sou um grande fã de Rubens Barricchelo, mas torci muito por ele no dia em que conquistou sua primeira vitória na Fórmula 1. Seria constrangedor se ele tivesse passado a corrida na cola de Schumacher, e no fim o alemão mandasse passar, com um gesto: “Pode ganhar, parceiro”. Mas não: Rubinho saiu na 18a. posição e veio comendo pelas beiras até alcançar a ponta e ganhar a corrida. Há uma bela foto da equipe da Ferrari, na chegada, vibrando, os caras praticamente se jogando na pista de tanta euforia. Momentos assim são a razão de ser do esporte.

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