Para muita gente estes termos designam dois partidos políticos, mas na verdade eles expressam algo que vai muito além da política. São visões do mundo que impregnam tudo, da Estética à Religião.
Tentando resumi-las da maneira mais sintética possível, eu diria que a Direita acredita que as Elites devem governar as Massas, e a Esquerda crê que as Massas devem governar as Elites.
Claro que, numa arena inflamada como a da política, termos como “elite” e “massa” acabam ganhando conotações pejorativas ou auto-glorificatórias.
Uma das classificações mais divertidas do pensamento da Direita e da Esquerda é a de Quaderna, o protagonista do Romance da Pedra do Reino de Ariano Suassuna, comentando as brigas ideológicas de seus mestres Clemente e Samuel:
“De modo semelhante, tomavam, furiosamente, partido em tudo. A Sociologia era da Esquerda, e a Literatura fortemente suspeita de direitismo. O “riso satírico e a realidade” eram da Esquerda, a “seriedade monolítica e o sonho”, da Direita. A Prosa era da Esquerda e a Poesia, da Direita; mas, mesmo ainda dentro do campo da Poesia, tomavam partido, pois a lírica era considerada “pessoal e subjetiva, e portanto direitista e reacionária”, enquanto que a satírica, “social e moralizante, didática” era considerada progressista e da Esquerda.
A Natureza, com “a luta pela vida, dura e cruel, com a selvageria, a desordem, a sobrevivência do mais forte e as marcas que ainda guardava do Caos e do negrume”, era da Direita. A cidade, “organizada, baseada no progresso, no trabalho e na máquina”, era da Esquerda.
Do ponto de vista social, o sexo masculino, mais forte, dominador e explorador do outro, era da Direita, e o sexo feminino, explorado, fraco, ressentido e revoltado, da Esquerda. Mas, do ponto de vista do gosto, o sexo masculino, sóbrio e despojado, era da Esquerda, enquanto o feminino, com o amor pelos tecidos e pelas jóias, era da Direita. E assim por diante, em tudo e por tudo”. (Folheto 34)
É uma sátira, claro, mas distinções deste tipo podem ser multiplicadas a tal ponto que parecem pertencer a um movimento instintivo da mente humana. Servem para qualquer coisa.
Se os padrinhos de Quaderna fossem versados em rock-and-roll, por exemplo, o elitista Samuel diria que o rock é de Esquerda, porque expressa o primitivismo musical das massas urbanas, o nivelamento-por-baixo da arte de combinar letra e música, e a rebeldia-sem-causa de adolescentes incomodados com a autoridade paterna.
E o marxista Clemente diria que o rock é de Direita, porque expressa os interesses das mega-corporações da indústria fonográfica, a lavagem cerebral de-cima-para-baixo promovida pelos meios de comunicação, e a promessa de enriquecimento fácil desviando a juventude da verdadeira luta política.
Os Beatles (comportadinhos, condecorados pela Rainha) são de Direita, e os Rolling Stones (sujos, mal-educados, agressivos) são de Esquerda.
E assim por diante, em tudo e por tudo.
Um comentário:
É interessante essas distinções... Os beatles fumaram antes de receber a condecoração da rainha, disseram que eram mais famosos que jesus e fizeram uma música que inspirou um assassinato! A culpa foi do Brian, que achou que podia controlar os caras, principalmente um tal de Lennon :)
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