Eu me lembro que nos velhos álbuns de figurinhas como Céu e Terra cada envelope trazia 4 figurinhas, ou duas figurinhas duplas, ou uma figurinha quádrupla.
Eu me lembro que nos cinemas as cadeiras eram de madeira e
a gente se levantava, erguia o assento e depois o jogava pra baixo com força,
fazendo “pááá!” quando o filme demorava a começar ou quando a fita quebrava.
Eu
me lembro dos museus de cera itinerantes que visitavam Campina e sua exposição
de púbis masculinos e femininos com exemplos de todas as doenças venéreas
imagináveis.
Eu me lembro de como era deserta e lamacenta a área entre o
Açude Velho, a Maternidade e a feira, e de como um dia, indo com alguém ao
encontro de minha mãe, enterrei a perna até o joelho num lamaçal preto e perdi
um chinelo ou alpercata.
Eu me lembro dos espelhinhos redondos de bolso e dos
pentes Flamengo, e de como eu só me penteava com o lado mais cerrado do pente
(hoje faço o contrário).
Eu me lembro da correria dos meninos da rua para caçar
tanajuras e fritá-las com óleo, e do nojo que eu sentia só em me imaginar
comendo aquilo.
Eu me lembro que nos picolés vendidos nos carrinhos da rua o
de “rainha” era o único com sedimento acumulado na ponta (no caso, a castanha
moída).
Eu me lembro que na lata do óleo vegetal “Don-Don” aparecia uma mulher
com chapéu de mestre-cuca junto a uma lata idêntica, em tamanho proporcional, e
assim por diante, numa construção-em-abismo.
Eu me lembro que antigamente a
gente podia ver duas ou mais sessões seguidas do mesmo filme pagando somente um
ingresso, bastava ficar dentro do cinema.
Eu me lembro do Açude Novo por trás do atual Teatro
Municipal, domingo de sol, e dezenas de guris, o tempo inteiro, subindo numa
espécie de amuradazinha e depois tibungando dentro dágua.
Eu me lembro do
cheiro do linimento que minha avó Inez esfregava nas pernas antes de dormir, e
que voltei a sentir quando entrava no vestiário do Treze, no estádio Presidente
Vargas.
Eu me lembro do restaurante Pérola, em frente ao colégio Alfredo
Dantas, e de como eu olhava da calçada os guardanapos de pano branco enfiados
nos copos e achava aquilo o máximo da elegância.
Eu me lembro do Grand Canyon, o enorme buraco cavado pelas enxurradas que desciam do Alto Branco, a vinte metros de nossa casa.
Eu me lembro de quando um amigo de meu pai esqueceu um par de óculos escuros lá em casa, e uma hora depois minha mãe me mandou na bodega, eu botei os óculos, todo vaidoso, e quando passei na esquina um guri falou: “Minha vó tem um oclo igual a esse.”
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