Why The World Does Not Exist é o título irresistível de um
livro do filósofo Markus Gabriel (Polity Press) resenhado aqui: http://tinyurl.com/nk9yge6.
Discutir a
existência das coisas parece ao leigo uma falta-de-ocupação às custas do erário
(muitos que o fazem ganham salários em universidades públicas). Mas há uma
questão sutil. Se formos incapazes de provar com rigor filosófico a existência
do mundo, algo que nos parece tão óbvio (ou “evidente por si mesmo”), como
poderemos provar verbalmente a existência de fenômenos mais controvertidos?
Descartes tentou ressetar esse problema com seu “Penso, logo existo”, mas ele é
como uma árvore podada que logo volta a crescer.
Na verdade, não queremos saber se o mundo existe, e sim se
dispomos de ferramentas filosóficas confiáveis para provar se alguma coisa
existe ou não. Markus Gabriel comenta:
“Seria esquisito se alguém, em resposta à pergunta ‘Ainda tem manteiga na geladeira?’ respondesse dizendo: ‘Sim, mas tanto a manteiga quando a geladeira na verdade não passam de uma ilusão, uma construção humana. Na verdade, nenhuma das duas existe. Na melhor das hipóteses, não temos como saber se existem ou não. De qualquer modo, bom apetite!”.
Isto me lembra uma comparação divertida de Ariano Suassuna
(a quem esses questionamentos filosóficos não eram estranhos). Discutindo a
afirmação de Kant de que não podemos afirmar a existência de algo exterior a
nós, Ariano dizia:
“É muito fácil discutir se aquele jasmineiro, se a imagem daquele jasmineiro, corresponde ou não ao real. O jasmineiro está quieto, no canto dele. Mas eu garanto que, se fosse uma onça que entrasse aqui, nem Kant iria perguntar se por acaso se tratava de uma correspondência com o real.”
“Se pensamos no mundo, o que entendemos é algo diferente do que queremos entender. Nunca podemos entender o mundo em sua totalidade. Ele é, em princípio, grande demais para ser abarcado pelo nosso pensamento. O mundo, em princípio, não pode existir, porque ele não pode ser encontrado no mundo”.
O filósofo encontra uma maneira de compensar
essa impossibilidade de abarcar o mundo total.
Diz ele que o que existe de fatos são “campos de sentido” onde
percebemos as coisas, que são “um domínio finito de conexões significativas”.
Esses campos de sentido (em alemão Seinfelde, num trocadilho com o sitcom da TV Seinfeld) podem abarcar infinitas coisas, inclusive, diz ele, coisas que são
reais apenas porque pensamos nelas (existem, mas no plano das idéias): “elfos,
bruxas, armas de destruição em massa em Luxemburgo e unicórnios no lado oculto
da Lua vestindo uniformes da polícia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário