(ilustração: "Biodome", by Shadow-Trance, em www.deviantart.com)
O objetivo da civilização é expandir-se fisicamente até
ocupar o mundo inteiro, quando então o mundo entrará em colapso, visto que seu
metabolismo não pode sustentar uma malignidade desse porte. Millôr Fernandes
dizia que o homem era um câncer da Natureza, e mesmo que não seja algo tão
grave pode ser algo tão incômodo como uma “impinge”. O que é bom para a
Humanidade? Me lembra aquela piada onde um compadre pergunta o que é bom para
úlcera e o compadre responde: “Cigarro, bebida, carne assada, pimenta...” O
outro diz: “Danou-se, e isso é bom?” “É
bom pra ela,” disse o outro, “ela cresce, fica mais forte, sai tomando conta de
tudo”.
Daí que um dos traumas fundamentais da espécie humana seja
essa tentativa psicótica de negar o universo, seja considerando-o território
seu e preparando-se para colonizá-lo, seja criando toda uma cultura do homem
como espécie necessariamente superior, e disso decorrem uma ética, uma moral,
uma estética condizentes. Talvez a imagem equivalente disso na FC seja Trantor,
a cidade-planeta de Asimov, cobrindo a superfície inteira do planeta homônimo.
Um artigo de Alexandre Nodari (citado no blog A Bacia das
Almas de Paulo Brabo, aqui: http://tinyurl.com/nuvn6wg)
fala na semelhança de origem entre a palavra floresta e o conceito de “fora”
(forest, forêt). A floresta é tudo que está lá fora, o covil dos
ainda-não-civilizados, os morlocks e os ghouls e todos os monstros do lado
externo da cúpula transparente e pressurizada que nos protege, e é mais fácil a
gente morrer do que dela abrir mão.
Mas toda mão se abre com a morte, como se vê no cinema
americano. Se a humanidade se extinguir por completo será por uma Big Crise
seguida de fome e epidemias. Não será do dia para a noite. Levará séculos de
encolhimento e regressão tecnológica, o que ironicamente retardará a
contaminação de alguns grupos significativos, cujo ocaso pode vir a ser rodeado
de portentos.
Um comentário:
E o pior é o egoísmo e cinismo humanos. Mudamos toda a natureza e ainda achamos um desastre uma praga de gafanhotos, formigas, capivaras, etc., quando a verdadeira praga do mundo é a civilização humana.
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