Meu nome é Paraíba, e tenho 25 irmãos.
Sabemos quem é nossa
mãe, mas não temos certeza sobre quem é o pai de cada um, porque somos legião.
O mal da nossa mãe foi ser tão fecunda, bastava que lhe plantassem algo ali
onde ela tudo dava. Seu destino era traçado a milhares de léguas da cama onde
vivia sendo possuída.
Mas tem uma
velha oração, ou será uma canção antiga, que diz que não há tragédia que não
produza uma nova forma de viver, e, se é uma nova forma de viver, é algo, em
princípio, bom.
A terra dos nossos pais é grande e se estende por montes,
campinas, matas e rios. Vivemos quase
todos ao alcance da vista uns dos outros. Quem vive perto se observa, se vigia,
se controla, se mantém a uma distância respeitosa, conserva os outros a uma
distância confortável.
Por uma questão
meio de poder aquisitivo, meio de hábito tradicional, vivo cercado pelos meus
irmãos mais próximos – Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará – cujas terras
limitam com as minhas e com quem, metaforicamente, troco empréstimos de xícaras
de açúcar, vagas na garagem, senhas de wi-fi.
Numa família de muitos irmãos, é normal que alguns não se
conheçam, que outros inventem formas de convivência e apoio. Eu mesmo desde muito cedo saí da casa dos
meus país e fui morar na casa do meu irmão Rio de Janeiro, que mora longe mas é
super bem sucedido, ou pelo menos assim apregoa.
Morei com São Paulo também, que não é o mais velho mas é sem
dúvida o mais rico de todos os irmãos e acha que basta isso para lhe dar
direito a uma primogenitura. Enfim, uma discussão que já é antiga.
Irmãos demais dá nisso. Uma bela noite a gente está de volta
à cidade natal, vai a um bar com a antiga turma e de repente um cara de bigode
se aproxima de uma mesa próxima. “Você é Paraíba?” “Sim, sou eu mesmo.” “Eu
sou teu irmão, então. Me chamo Amazonas.” (Roraima, Amapá, Acre...) Bom, só me resta apertar sua mão e dizer:
“Que legal, cara, somos irmãos, nossos pais já me falaram muito de você, não é
lá que predomina a pesca do pirarucu?”.
Meu amigo, é família que haja mapa.
Todos nos avaliamos a meia distância, como convém a
quem concorre. Todos trocamos pequenas
gentilezas, como acontece com quem sabe que um dia morre. Saber que somos
irmãos nos dá a idéia de que jogamos do mesmo time, estamos botando a bola pro
mesmo lado, mesmo que discordemos de todo o resto.
Uns são mais histriônicos e necessitados de holofotes. Outros são
mais carregadores de piano. Tem uns que sonham em viver no estrangeiro com os
pais, tem outros que se orgulham da vida aqui na mãe. Enfim: igual ao que acontece com toda família, desde que o mundo
é mundo.
Um comentário:
Clap, clap, clap! (Txt maravilhoso, Braulio, mais um candidato a pôster na minha parede. Abração, tudo de bão.)
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