Raymond
Chandler, o criador de Philip Marlowe, e Ian Fleming, o criador de James Bond,
se conheceram em abril de 1955, quando Chandler, que era meio irlandês (por
parte de mãe), e tinha estudado na Inglaterra, retornou àquele país depois de
muitos anos. Já era um escritor rico, famoso, paparicado por jornalistas e
socialites. Fleming estava longe do sucesso, tendo publicado (sem grande
repercussão) apenas 3 aventuras de Bond: Casino Royale, Live and Let Die e Moonraker. Ele recorda que Chandler foi gentil, elogiou Casino Royale, mas
“parecia incapaz de falar de outra coisa a não ser a perda recente da esposa, e
falava disso de maneira tão aberta e franca que me embaraçou e ao mesmo tempo
me despertou grande afeto por ele.” Um biógrafo de Fleming registra que os
elogios e o incentivo de Chandler (os dois continuaram se correspondendo) foram
cruciais para que Fleming não desistisse de escrever.
Numa
visita seguinte, em 1958, os dois gravaram uma entrevista conjunta na BBC cujo
áudio original, em 4 partes, está aqui: http://bit.ly/1gCUPfZ.
(Há uma transcrição, meio incompleta mais útil, aqui: http://bit.ly/1bMG3FX). A esta altura,
Chandler (que morreria no ano seguinte), mantinha o humor ácido e a
inteligência, mas estava num período brabo de alcoolismo, enquanto Fleming
curtia seu grande momento de sucesso. Tinha acabado de lançar From Russia with
Love e Dr. No, e na conversa menciona o próximo livro a sair, Goldfinger.
Chandler tinha acabado de escrever o que seria seu último livro, Playback, do
qual Fleming lê e comenta alguns trechos. Os dois conversam sobre o método mais
prático de praticar um crime encomendado, sobre agentes secretos e detetives
particulares na vida real, e comentam as características dos seus personagens
famosos.
Eram
escritores muito diferentes, e sabiam disso. Fleming explica que seu trabalho
como jornalista lhe garantia dois meses de férias na Jamaica todo ano, e por
isso ele podia lançar um romance por ano. Chandler, um reescrevedor nato, para
quem cada capítulo era um parto, comenta que jamais conseguiria escrever um
livro em dois meses. Fleming diz (com
naturalidade, sem bajulação): “Ah, mas você escreve livros melhores do que os
meus.” E Chandler: “Mesmo assim. O meu livro mais rápido me custou TRÊS meses.”
Fleming sugere que os ingredientes básicos do thriller são ritmo, violência,
sexo e uma boa história. E Chandler complementa: “E mistério. O mistério não
precisa ser o de quem matou Sir James na biblioteca, mas o de descobrir que
situação era aquela, o que cada uma daquelas pessoas pretendia, e que tipo de
gente eram elas.”
2 comentários:
... aí tinha o Simenon, que além de sua outra atividade frenética (segundo consta), escrevia um livro em... uma tarde?
E eram bons.
Em uma tarde nem The Flash, mas ele fazia em 1 ou 2 semanas.
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