(Flip 2013: Noemi Jaffe, Ferrari, Galera)
Numa palestra da Flip 2013, mediada por Noemi Jaffe, Daniel Galera e Jerôme
Ferrari falaram, entre muitas outras coisas, da relação de seus personagens com
o tempo. O livro de Galera, Barba ensopada de sangue (2012), fala de um rapaz
que vai morar num balneário e aproveita para pesquisar a vida de seu avô, sobre
o qual sabe pouca coisa. O de Jerôme, Sermão sobre a queda de Roma (2012) fala de dois amigos que se
afastam de Paris e montam um bar na Córsega, onde pretendem viver mais ou menos
ao abrigo de grandes agitações e grandes mudanças.
Galera comentou a certa altura o quanto é difícil viver
no presente. Na maior parte do tempo estamos preocupados com o futuro ou então
estamos remexendo na memória, no passado. Jerôme observou que o projeto do bar
na Córsega serve para seus personagens como a tentativa de produzir um futuro
que seja a infindável repetição do presente. Uma tentativa de congelar o tempo.
O presente é feito de partes iguais de passado e futuro.
É um entrelaçamento de memória e vontade, a memória checando o que ficou para
trás e a vontade nos obrigando a avaliar o tempo inteiro o que nos pode suceder
mais à frente.
O romance moderno superou a antiga construção cronológica
tipo passado-presente-futuro, onde os fatos pareciam seguir uma sucessão
numérica. No romance atual, os tempos estão todos superpostos, mesmo quando há
um fio de enredo nos tranquilizando com a sugestão de uma estrutura tipo
começo-meio-fim. Um romance como Os Detetives Selvagens (1998) de Roberto
Bolaño avança a passos trôpegos, porque a cada página as informações sobre o
passado se multiplicam; na verdade, é rumo ao passado que avançam as
investigações sobre os dois poetas que são os personagens principais.
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