(by Jim Burns)
Cap. 1 – De
como José Ribamar Marinho foi criado num cortiço perto da Rua do Riachuelo, pai
frentista, mãe doceira, irmãos eternamente gripados, cerveja no refrigerador,
infiltração na cozinha, morcegos nas cumeeiras, dez rádios e dez TVs competindo
em decibéis, odores orgânicos onipresentes, varal de roupas secando na sala,
ladrilho solto no quarto onde ele guardava seus dinheirinhos até o dia em que a
irmã pequena achou e rasgou sem saber o que era, e do portão para fora a Cidade
se espalhando, campo de batalha, parque de diversões.
Cap. 2 – De
como nas escolas públicas José Ribamar aprendeu a ler, escrever, fazer contas,
colar na prova, dar dedadas, fumar no banheiro, quando brigar, quando correr,
quando apelar para as autoridades.
Cap. 3 – De
como José Ribamar arrumou um bico numa oficina mecânica onde descobriu a
importância de chegar na hora, a necessidade de ficar calado ao ouvir um
esbregue, e a magia das máquinas e das mulheres só de calcinha.
Cap. 4 – De
como José Ribamar num piscar de olhos tinha barba, pelo no peito, carteira
assinada, uma coleção de HQs empilhada em cima do armário, e rachava com o pai
o prejuízo da prole.
Cap. 5 – De
como José Ribamar, no consertar de motos alheias, deixou-se cooptar por
metaleiros que agiam perto da Praça da Cruz Vermelha e desse dia em diante não
tirou mais dos ouvidos o iPod que ganhou por um conserto de emergência em tempo
recorde, e por onde recebia injeções maciças de trash metal, zombie metal,
hellfire metal, meth metal e outras persuasões ritualísticas que tímpanos
incréus seriam incapazes de distinguir umas das outras.
Cap. 6 – De
como o mundo renasceu por inteiro aos olhos de José Ribamar quando dois amigos
o levaram a um tatuador que lhe aplicou no bíceps, num demorado orgasmo
sustentado a fumo, a imagem de um urso barbudo de punhal nos dentes pilotando
um jet-pack flamejante em volta da Torre Eiffel.
5 comentários:
Munto bão, como todos os outros dessa série. (A transformação do Ribamar me reavivou a lembrança de Trouble in Mind, filmaço do Alan Rudolph - que não tem filme ruím ou oco - em que o Keith Carradine vem com a família pra cidade grande e vira camaleão dos costumes urbanos.)
Sou fã desses seus texto-planos de livros! eles tem cara de argumento, e alma de micro contos. muito bons!
Valeu, Fraga - ficarei de olho nesse filme, que não conhecia.
Diogo, a idéia é essa, transformar o índice de um romance num gênero por si só, sem precisar do resto do romance.
Tem dado ótimos resultados, espero por mais! abraço.
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