segunda-feira, 20 de junho de 2011
2585) A Internet e o microfone (17.6.2011)
Acho que muitos de vocês já presenciaram esta cena. Durante um seminário, simpósio, mesa-redonda ou seja lá que diabo for, há sempre um momento em que se faculta a palavra “para as perguntas da platéia”. Eu sempre achei essa premissa um tanto tendenciosa. E se a platéia, ao invés de perguntas, tiver respostas? E se, ao invés de pedir esclarecimentos aos luminares assentados na mesa, alguém tiver questionamentos a fazer, ou novas idéias a propor? Mas enfim, é o ritual, e coloca-se um microfone num pedestal perto do palco, ou circulando às mãos das mocinhas da produção, para que as pessoas façam suas perguntas. Um ou outro faz, e são respondidas. Mas aí alguém chega ao microfone e inverte a equação.
Ele começa sempre parabenizando o evento, parabenizando os participantes da mesa, elogiando a todos pelo brilhantismo de suas exposições... Aí depois fala um pouco de si mesmo, do quanto ele próprio perde noites de sono a pensar em todas aquelas questões importantes que estão sendo debatidas ali... Começam alguns murmúrios de impaciência, mas ele, impávido, começa a relatar um episódio que lhe ocorreu na juventude e que marcou toda sua vida a partir de então. Quando tentam interrompê-lo, pedindo que seja breve, ele assegura a todos que a narração desse episódio é essencial para a pergunta que fará a seguir; e há sempre algum participante da mesa que democraticamente aconselha, com um gesto, que é melhor “deixar o rapaz concluir o seu raciocínio”. Ele conta um episódio longuíssimo, fala em seguida do livro que acabou de lançar, menciona o endereço da editora, seu telefone, agradece e volta à sua poltrona.
Isso é igualzinho sabe a quê? À Internet. A Internet é uma espécie de microfone que de repente foi dis-po-ni-bi-li-za-do para uma platéia que há quinhentos anos, desde a invenção da imprensa por Gutenberg, estava acostumada a ficar apenas ouvindo, e julgando-se bem paga com isto. O mero direito de ouvir já era lucro. O privilégio duplo de saber ler e poder comprar livros era razão para festa, e não passava pela cabeça dos leitores que eles também poderiam ter seus 15 segundos de fama.
A maioria das pessoas que vai ao microfone nas mesas-redondas não tem perguntas a fazer nem respostas a distribuir. Quer apenas ver-se ali na frente e ouvir-se falando. O microfone lhe serve de espelho, no qual ele por alguns minutos sente-se pertencer ao mesmo mundo daqueles Olimpianos do palco. A Internet, idem ibidem. Na Internet, no blog, no saite, cada um de nós sente-se democraticamente escritor, porque o fato é que escreve, e tem todo o direito de pelo menos imaginar que é lido, mesmo que não o seja. (Quem publica livros imagina a mesmíssima coisa.) A Internet dis-po-ni-bi-li-zou um microfone para alguns bilhões de pessoas. Está saindo besteira a dar com um pau, mas paciência, mais vale deixar as pessoas concluírem o raciocínio delas.
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3 comentários:
Braulio, falando em Internet, deixe de ser ruim e aceite mais amigos no facebook, rs!
Seus textos são tão simpáticos, mas quando finalmente o encontrei na rede, vi que não há como tê-lo entre meus contatos.
:(((
Existe no Facebook uma espécie de campeonato ou aposta para ver quem tem mais amigos. As pessoas ficam clicando nomes ao acaso para angariar amigos. Eu parei de aceitar porque não vou ficar adicionando como amigo gente que eu não conheço e que nem sequer sabe quem eu sou. Mas já adicionei você.
Caramba, fiquei muito surpreso ao ver tua solicitação! (não sabia que podias me encontrar...)
Fico lisongeado, Braulio!
Também não me importo com números, mas mesmo não o conhecendo pessoalmente, você é uma das pessoas com quem mais interajo na rede (embora quase sempre na escuta - gosto mais de ouvir mesmo).
Quando aparecer para dar mais palestras na PB, avise aos amigos daqui, rs!
Abraço!
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