domingo, 3 de abril de 2011
2521) Fotos de viagem (3.4.2011)
Voltar de uma viagem por lugares agradáveis é também o momento de dar um balanço nas fotos de viagem. Antigamente (advérbio cada vez mais frequente nas minhas comparações) marcava-se uma noite em casa para que os amigos viessem. Servia-se vinho ou cerveja, apagava-se a luz e projetavam-se slides na parede, para os “oooh” e “rá rá rá” da platéia. Isso para os mais abastados, que tinham projetor de slides em casa. Os medianos imprimiam as fotos em papel mesmo, e os montinhos de fotos (ou os álbuns onde elas eram cuidadosamente montadas) eram passados de mão em mão. Hoje as opções são várias, mostrar na tela do notebook, na telinha do celular em momentos mais rápidos e informais, ou então plugar o notebook na TV da sala e exibir ali.
Tudo bem, mas para que? Eu nunca tive máquina fotográfica e sou até hoje um fotógrafo incompetente, fico prestando atenção no enquadramento e acabo clicando na hora em que todo mundo está com a boca torta e o olho arregalado. Mas é por falta de prática. Quase nunca levei máquina nas minhas viagens, e quando levei não foi para tirar fotos de mim mesmo, foi para clicar as coisas curiosas que via.
Mas uma vez alguém me jogou na cara um argumento irrespondível. “Como você pode provar que esteve em Paris, se não tem nenhuma foto sua diante de uma coisa que todo mundo sabe que fica em Paris?”, disse minha amiga. O argumento é antigo, do tempo em que ainda não tínhamos o PhotoShop para nos levar não só a Paris, como ao fundo do mar ou a Aldebarã; mas define a razão para que a gente compre uma câmara digital e a leve na mochila. Tiramos fotos para provar aos incrédulos que foi mesmo em Paris que passamos aquelas férias, e não escondidos no quarto dos fundos da casa do irmão da gente no Jardim Paulistano.
Mas tem outra, mais sutil do que esta. Quando vemos por fim as fotos da viagem já não precisamos mais sentir a insegurança, a precaução, o temor, o alerta que precisa ficar ligado o tempo inteiro quando estamos na viagem. Naqueles flashes tão sorridentes estávamos na verdade pensando: Será que vão bater minha carteira? Será que vou perder meu passaporte? Encontrarei um câmbio favorável quando for trocar dinheiro? Pagarei excesso de bagagem, somente porque estou trazendo 200 livros? Durante as fotos é este o subtexto psicológico de cada momento, em que a cabeça organizatória precisa tomar a frente a colocar em segundo plano a cabeça curtidora, a cabeça “carpe diem”.
Numa viagem, somos um “fama” cortazariano, computando e atualizando o tempo inteiro os gastos com o frigobar, imaginando roteiros que economizem táxi. Quando voltamos para casa e olhamos as fotos, essa insegurança se desmanchou no ar. Agora sim, somos um mero cronópio feliz da vida, revivendo um momento bom. Ou talvez vivendo-o pela primeira vez em sua plenitude, porque somente agora temos 100% de certeza de que o momento foi bom mesmo e nenhum pivete estrangeiro nos arrebatou a sacola da livraria.
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2 comentários:
Ler Bráulio é como ouvir Lincoln, ou vice-versa: "Antigamente (advérbio cada vez mais frequente nas minhas comparações)". Disse isso a ele, aqui ao lado, e rimos muito. Torno-me, a partir de hoje, sua mais recente leitora assídua. E de vez em quando tomarei a liberdade de reproduzi-lo no meu blog. A mesma liberdade que tomo de te mandar um beijão, já que você é muito íntimo, apesar de nunca termos nos visto pessoalmente.
Giovana, eu e Lincoln somos uma dupla caipira. Ou será uma caipirinha dupla? :-))))
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