quinta-feira, 15 de julho de 2010
2265) A jabulani e a vuvuzela (11.6.2010)
Começa hoje a Copa do Mundo! O idioma português já sofre o enxerto de duas palavras turistas. Jabulani é a bola a ser utilizada na Copa, uma bola da qual pouca gente gostou. Robinho disse que quem a fabricou nunca jogou futebol e Luís Fabiano considerou-a “sobrenatural”, porque toma direções imprevisíveis, desconcertando tanto o atacante quanto o goleiro. Já a vuvuzela é nossa conhecida desde o ano passado, na Copa das Confederações: é a ensurdecedora corneta soprada pelos torcedores sul-africanos.
Antes da Copa, a televisão nos abarrota de informações sobre a África do Sul, o país de Mandela, do “apartheid”, do bispo Desmond Tutu, etc. Quero lembrar a presença do país sul-africano na biografia de dois dos meus escritores favoritos (até agora ninguém tocou no assunto).
Foi ali que nasceu em janeiro de 1892, na cidade de Bloemfontein (que será sede, entre outros jogos, do duelo entre África do Sul x França) o autor de “O Senhor dos Anéis”, J. R. R. Tolkien. Apesar de filho de duas famílias inglesas, Tolkien nasceu na África do Sul porque seu pai tinha sido nomeado gerente do Bank of Africa. Em Bloemfontein nasceram ele e seu irmão mais novo Hilary. Tolkien guardou poucas recordações dali, porque em abril de 1895, quando tinha apenas três anos, sua mãe (que nunca se adaptou ao clima africano) trouxe os meninos de volta para a Inglaterra. Das suas memórias, ficou um episódio em que foi picado por uma tarântula, o que pode ter ajudado na criação da terrível Shelob, a aranha gigante que Frodo e Sam Gamgee têm que enfrentar (em “O Retorno do Rei”) na sua entrada no reino de Mordor, para a destruição final do Anel.
Se o menino Tolkien voltou para a Inglaterra em 1895, por diferença de poucos meses seu navio não cruzou com o navio que trouxe para a África do Sul, em janeiro de 1896, um outro menino chamado Fernando António Nogueira Pessoa, cujo padrasto, João Miguel Rosa, havia no ano anterior sido nomeado cônsul interino de Portugal. Fernando Pessoa tinha sete anos quando sua mãe, para acompanhar o segundo marido, transferiu-se para a cidade de Durban (onde o Brasil enfrenta Portugal no dia 25). Ao contrário do que ocorreu com Tolkien, a permanência na África do Sul marcou Pessoa profundamente. Ele morou ali (com ocasionais visitas a Portugal) até os dezessete anos, quando, em agosto de 1905, voltou definitivamente a Lisboa, para seguir o curso de Letras.
Pessoa tornou-se poeta em Durban, e seus primeiros escritos literários, tanto em prosa quanto em poesia, dividiam-se entre o inglês e o português. O poeta permaneceu bilingue durante o resto da vida. Seus poemas ingleses são de alto nível: “Antinous” (1918), “35 Sonnets” (1918), “Inscriptions” (1921), “Epithalamium” (1921), mas têm ficado em segundo plano nas análises de sua obra, eclipsados (compreensivelmente) pela obra em português. E foi como tradutor de cartas comerciais que o poeta ganhou a vida, bem ou mal, até falecer aos 47 anos.
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Um comentário:
Criado agora: não veja apenas TV, leia Bráulio TaVares. Leio e VeJo muito mais...
Prazer imenso estar-me aqui, poeta...
Convido-te a conhecer o CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos), pequeno jardim de lembranças e homenagens...
Abraço gauche,
Pedro Ramúcio Pedro.
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