quinta-feira, 24 de junho de 2010
2187) A Era dos Avatares (12.3.2010)
O filme de James Cameron, Avatar, está sendo discutido como um filme sobre a guerra entre as máquinas e a natureza. Um planeta com uma fauna e uma flora espantosas, habitada por humanóides inteligentes, sofre a invasão militarizada dos terrestres, e começa aquilo que vemos todo dia no Jornal Nacional. A Peleja da Sequóia contra a Motosserra. A Peleja das Mineradoras contra o Mico-Leão Dourado. A Peleja da Extração de Matérias Primas contra a Preservação da Memória Étnica. E assim por diante. Confesso que em alguns momentos Avatar me trouxe à mente um gibi de Mandrake lido na infância, em que o mágico de casaca e cartola, criado por Lee Falk, chega a dois “reinos” contíguos chamados Mecana e Flora. No primeiro, tudo é realizado e produzido através de máquinas; no segundo, através de plantas.
Cameron deita e rola na criação de máquinas colossais e de uma natureza surrealista e magnífica. Algumas paisagens do filme me deram um choque comparável ao que senti, quando menino, ao ver o desenho dos três baobás do Pequeno Príncipe de Exupéry. Avatar é aquilo elevado ao cubo e em três dimensões. Eu diria, contudo, que essa oposição entre máquinas e natureza, embora se agigante em primeiro plano, é secundária. O que Avatar nos propõe é que comecemos a nos adaptar a um mundo em que máquinas e natureza não poderão mais existir separadas uma da outra.
O Avatar é uma projeção física de nós mesmos, controlada à distância. O primeiro exemplo é o clone humanóide que o soldado Jack Scully “habita” para se locomover no planeta Pandora: um ser humano é plugado a um humanóide, que vira uma extensão do seu corpo. Depois, temos aqueles imensos “transformers”, nos quais um soldado entra e maneja lá de dentro. A máquina gigantesca repete e amplia seus gestos: é um ser humano plugado num robô. Esse recurso, contudo, não é apenas um cacoete tecnológico dos terrestres, pois em Pandora os humanóides também se plugam naqueles animais que por falta de melhor termo chamo de dragões voadores. E a tal Árvore da Vida, que no final promove a transferência de Jack Scully para o corpo do humanóide, também se pluga nos corpos que são levados para ela, ligando-se a eles por filamentos luminosos que pra mim não passam de superfibras óticas conduzindo milhões de terabytes de memória genética.
É o futuro da nossa humanidade, queiramos ou não, e o filme de Cameron nos prepara para um mundo em que será normal e até necessário termos avatares, projeções do nosso corpo controladas por nossa mente. Alguns serão máquinas maiores e mais maciças do que nossos próprios corpos. Outros serão clones ou outro tipo de desdobramentos biológicos. Outros serão avatares virtuais, imateriais, vapor de informação cibernética, constelação de sinais eletrônicos. Sem essas projeções de nós mesmos não conseguiremos nos relacionar com o mundo, assim como não podemos ver um filme 3-D sem a máquina ótica que nos é fornecida na entrada.
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