quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

1699) O futebol olímpico (22.8.2008)



(Marta)

Eu trocaria de bom grado a conquista de uma Copa do Mundo pela Seleção principal (essa de 2010 na África do Sul, por exemplo) pela medalha de ouro olímpica para a Seleção feminina, que merece muito mais uma consagração. Nenhuma derrota nestes jogos me abateu tanto quanto a das “meninas do Brasil”, como são chamadas pela imprensa. A Seleção masculina de Dunga perdeu para a Argentina sem jogar dois-tões de bola. Irritou; mas não entristeceu. Já a Seleção das meninas entristeceu – mas não irritou. Jogou bem, buscou o gol, lutou o jogo inteiro, e no segundo tempo da prorrogação, já perdendo, já exausta, ainda corria, chutava, batalhava pela bola como se fosse um prato de comida. Perdeu injustamente, mais uma vez. Eu preferiria perder uma Copa do Mundo inteira do que ter perdido esse jogo.

Falei que o time jogou bem, mas como perdeu está na cara que esse “bem” é relativo. O time tem defeitos. Talvez o defeito decisivo tenha sido o lado emocional, porque era visível o desgaste na paciência delas à medida que o jogo ia correndo. A sucessão de tentativas e erros cria um círculo vicioso em que os erros acabavam se tornando mais prováveis.

Todo mundo (inclusive eu) tem a mania de dizer que as americanas e européias são frias, são robotizadas, ao passo que nossas meninas são mais instáveis. Não é bem assim. Na semi-final contra a Alemanha, quando o Brasil virou o jogo para 2x1 as alemãs pareciam umas baratas tontas dentro de campo. Elas também acusam um golpe. Elas também se abalam. Aquela frieza só dura enquanto as coisas estão saindo conforme o manual, o planejamento e o cronograma. Se puxar o tapete, elas também caem.

Se tivéssemos feito o primeiro gol, certamente seriam as americanas a bater cabeça, a se afobar. Para mim o lance decisivo do jogo foi no segundo tempo, quando Marta driblou duas, entrou na área, chutou de esquerda e a goleira tirou com um soco da mão direita, às cegas, no susto, na intuição – e não estou dizendo que foi mera sorte, foi talento mesmo. Se essa bola entrasse, nossos nervos se normalizariam. Se íamos ganhar é outra história, mas com 1x0 o jogo estaria nas nossas mãos.

Faz pena um time de moças tão valentes, tão dedicadas (e tão hábeis com a bola nos pés) perder para um time tecnicamente inferior, cujas únicas virtudes são as virtudes de um jogo coletivo bem ensaiado, de muita marcação, muito preparo físico e muito estudo do adversário. No segundo tempo da prorrogação, as brasileiras, já com os nervos em frangalhos e as pernas bambeando, ainda corriam em campo com uma vontade admirável. Fico pensando se a seleção de Dunga estava assistindo esse jogo. Dunga está com os dias contados; e torcida já canta “Eu vou – eu vou – pra casa agora eu vou...” Tomara que vá logo, porque o futebol que ele quer nos impor é o contrário do futebol de Marta, Cristiane, Daniela, Ester, Formiga, Tânia e todas as valentes meninas do Brasil.

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