Revi, durante a Jornada Internacional de Curta Metragem, em Salvador, este longa de José Agrippino de Paula, numa sessão em homenagem ao escritor e cineasta falecido em julho. Tive sorte, porque segundo Guido Araújo, diretor da Jornada, a cópia exibida na Bahia, hoje pertencente ao acervo da Cinemateca do MAM (Rio), é a única cópia restante deste filme obscuro, e foi localizada na cidade de Cachoeira (BA) pelo próprio Guido, depois de muita insistência do saudoso Cosme Alves Neto, diretor da Cinemateca.
Agrippino era um sujeito anticonvencional em todos os sentidos, principalmente em seus dois livros (reeditados há pouco pela Editora Papagaio, SP) Lugar Público e Panamérica. Além dos romances (que só podem ser chamados de romances com uma certa elasticidade de conceitos) ele escreveu pelo menos uma peça, As Nações Unidas, encenou um espetáculo misto de teatro e dança, Rito do Amor Selvagem e dirigiu em 1968 este longa-metragem em 16mm e preto e branco. Conversei em Salvador com Rudá de Andrade, um dos montadores do filme, que me disse: “Agrippino era inteligente e maluco. Não tinha noção de continuidade entre as cenas. Filmava do jeito que queria, e depois, para montar, era um trabalhão. O filme tinha cenas de tortura e personagens nazistas, e e corria muitos riscos numa época de ditadura militar. Nós o montamos na moviola da USP, depois da meia-noite, quando todo mundo ia embora e não havia perigo de alguém ver aquele material e nos dedurar”.
O filme mostra influências de Godard, Glauber, histórias em quadrinhos. Jô Soares faz um personagem de Teatro Kabuki, com um quimono estampado e uma cabeleira enorme; há uma cena hilária em que ele leva uma kombi para uma favela e coloca dentro dela dezenas de garotos pobres, que ficam empilhados até o teto. Como em alguns filmes de Godard, a trilha sonora (música, diálogos, ruídos) às vezes não tem nada a ver com o que está acontecendo na imagem. Com freqüência ruídos estridentes ou ensurdecedores interrompem as cenas.
Hitler prefigura muitas tendências do chamado “cinema udigrudi” que estava começando naquela época, como cenas absurdas filmadas na rua no meio de uma platéia de transeuntes perplexos. Outro personagem do filme é A Coisa, o monstro do Quarteto Fantástico (criado por Stan Lee e Jack Kirby), aquele massa-bruta cujo corpo parece feito de pedras coladas umas às outras (no filme, o ator usa placas de isopor). Há um pequeno grupo de nazistas que cria um “robô assassino” – na verdade um ator que se move com trejeitos mecânicos. Há uma cena genial com uma dúzia de pessoas numa canoa, pousada no chão, à beira de uma rodovia onde passam caminhões. Elas gritam e gesticulam como náufragos em alto mar, e de vez em quando uma lata dágua é atirada sobre o bote, de fora do quadro. Em certo momento um deles, vestido como Cristo, ergue-se, sai do bote e vai caminhando, enquanto os outros ficam assombrados com o “milagre”.
Agrippino era um sujeito anticonvencional em todos os sentidos, principalmente em seus dois livros (reeditados há pouco pela Editora Papagaio, SP) Lugar Público e Panamérica. Além dos romances (que só podem ser chamados de romances com uma certa elasticidade de conceitos) ele escreveu pelo menos uma peça, As Nações Unidas, encenou um espetáculo misto de teatro e dança, Rito do Amor Selvagem e dirigiu em 1968 este longa-metragem em 16mm e preto e branco. Conversei em Salvador com Rudá de Andrade, um dos montadores do filme, que me disse: “Agrippino era inteligente e maluco. Não tinha noção de continuidade entre as cenas. Filmava do jeito que queria, e depois, para montar, era um trabalhão. O filme tinha cenas de tortura e personagens nazistas, e e corria muitos riscos numa época de ditadura militar. Nós o montamos na moviola da USP, depois da meia-noite, quando todo mundo ia embora e não havia perigo de alguém ver aquele material e nos dedurar”.
O filme mostra influências de Godard, Glauber, histórias em quadrinhos. Jô Soares faz um personagem de Teatro Kabuki, com um quimono estampado e uma cabeleira enorme; há uma cena hilária em que ele leva uma kombi para uma favela e coloca dentro dela dezenas de garotos pobres, que ficam empilhados até o teto. Como em alguns filmes de Godard, a trilha sonora (música, diálogos, ruídos) às vezes não tem nada a ver com o que está acontecendo na imagem. Com freqüência ruídos estridentes ou ensurdecedores interrompem as cenas.
Hitler prefigura muitas tendências do chamado “cinema udigrudi” que estava começando naquela época, como cenas absurdas filmadas na rua no meio de uma platéia de transeuntes perplexos. Outro personagem do filme é A Coisa, o monstro do Quarteto Fantástico (criado por Stan Lee e Jack Kirby), aquele massa-bruta cujo corpo parece feito de pedras coladas umas às outras (no filme, o ator usa placas de isopor). Há um pequeno grupo de nazistas que cria um “robô assassino” – na verdade um ator que se move com trejeitos mecânicos. Há uma cena genial com uma dúzia de pessoas numa canoa, pousada no chão, à beira de uma rodovia onde passam caminhões. Elas gritam e gesticulam como náufragos em alto mar, e de vez em quando uma lata dágua é atirada sobre o bote, de fora do quadro. Em certo momento um deles, vestido como Cristo, ergue-se, sai do bote e vai caminhando, enquanto os outros ficam assombrados com o “milagre”.
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