Um artigo de Gregory Treverton na revista Smithsonian estabelece uma distinção útil – ainda que problemática – entre o que é um mistério e o que é um quebra-cabeças (“puzzle”). Diz ele:
“Um mistério não pode ser resolvido; pode apenas ser enquadrado, quando identificamos os fatores cruciais e tentamos descobrir como eles interagiram no passado e podem interagir no futuro. Um mistério é uma tentativa de definir ambigüidades. Já os quebra-cabeças podem ser mais satisfatórios, mas o mundo de hoje nos oferece cada vez mais mistérios, e tratá-los como quebra-cabeças é tentar resolver o irresolvível, um desafio impossível. Se, contudo, nós os abordarmos encarando-os como mistérios, talvez possamos nos sentir mais à vontade com as incertezas de nossa época”.
Tudo parece girar em torno de uma questão principal. Um quebra-cabeças tem uma solução real e oculta, que não depende do observador. Já um mistério, em princípio, não tem “a resposta certa”, mas respostas aceitáveis em maior ou menor grau, e que sempre dependem da interpretação subjetiva do observador.
Uma adivinhação ou uma charada, por exemplo, são quebra-cabeças. Têm uma resposta prevista pelo seu criador, e cabe à gente descobrir qual é. Uma adivinhação: “O-que-é o-que-é, que cai em pé e corre deitado?” Resposta: A chuva. Uma charada: “Água na ponta do osso – uma e uma (sílabas)”. Resposta: Água, com uma sílaba, mar; ponta, com uma sílaba, fim; osso, com duas sílabas, marfim.
Isto são quebra-cabeças. Já um mistério seria, por exemplo, o significado do sorriso da Mona Lisa, ou a explicação da origem dos Objetos Voadores Não-Identificados. Não “há” uma resposta. Qualquer resposta é possível, e umas poderão ser mais adequadas do que outras, sendo que o veredito sobre o que é “adequado” é, também, subjetivo.
Transpondo esta questão para a política, Malcolm Gladwell, no The New Yorker faz uma comparação.
O paradeiro de Osama bin Laden, por exemplo, é um quebra-cabeça: existe uma resposta concreta, pois ele está em algum lugar, mesmo que mude de esconderijo com freqüência. Os investigadores podem se queixar de escassez de dados, ou de dados contraditórios, mas podem ter a certeza de que existe uma resposta única, real, que pode vir a ser descoberta.
Já um mistério seria, por exemplo, o que iria acontecer no Iraque após uma invasão norte-americana. Não há uma resposta concreta, única, para isto: há teorias, cenários, hipóteses, cada qual baseada em elementos diferentes e opiniões contraditórias. À medida que o tempo passa, algumas dessas respostas vão perdendo probabilidade e outras vão se tornando mais viáveis. Mas para uma questão dessa natureza não existe “a resposta”. A resposta está se formando no correr dos dias, dos meses, dos anos, e não existia no momento em que o problema foi proposto. Portanto, não é um quebra-cabeça: é um mistério.
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