Enviado por André Carneiro, chega às minhas mãos A Geração 45 através do jornal "Tentativa” (Arquivo Público do Estado de São Paulo / Prefeitura de Atibaia, 2006), volume único reunindo os doze números deste jornal literário que o próprio André editou entre abril de 1949 e fevereiro de 1951 (juntamente com César Mêmolo Jr. e Dulce Carneiro).
É um volume de 21x30 cms, reproduzindo em fac-símile, em tamanho reduzido, os exemplares do jornal.
Diz Osvaldo Duarte em seu prefácio:
“Os estudos de história da literatura devem – como resposta à ambição de que se compõem – se voltar mais atentamente para os jornais e as revistas literárias. Lá estão gerações inteiras que se dissiparam, encouraçados que se perderam, inteligências insurrectas. Lá estão os livros que esperavam ser escritos, escritores que se lançavam em desespero para romper a muralha do anonimato. Lá os encontramos, uns em projeto, outros em fase de lapidação, prudentes ou aventurosos, inspirados ou cépticos se entregando às esferas insondadas da linguagem”.
O livro é o corpo adulto da obra literária, mas o jornal e a revista (e hoje o fanzine xerocado e a página eletrônica) são a sua adolescência, seu período de maturação e crescimento, de formação da consciência. É muito raro o escritor que chegue ao livro sem passar por um destes estágios.
Já caminhei no interior de Bibliotecas Públicas pelo Brasil afora, vendo nas estantes, em enormes volumes encadernados, coleções de revistas literárias dos séculos 19 e 20, e pensando que seria preciso a vida inteira de batalhões de pesquisadores para reencontrar lá dentro os contos fantásticos, os sonetos impecáveis, os artigos lúcidos ou revolucionários que nunca chegaram ao livro mas que ainda esperam, como mecanismos adormecidos, a energia dos nossos olhos para se porem mais uma vez em movimento.
Tentativa, que só agora começo a descobrir, foi um jornal múltiplo, a começar pelo logotipo criado por Aldemir Martins.
Diz André Carneiro em seu artigo introdutório que os jovens editores, não sabendo que Graciliano Ramos não dava entrevistas, vieram de Atibaia até o Rio para entrevistá-lo – e conseguiram.
A cada página vemos textos de Otto Maria Carpeaux, Menotti del Picchia, Vinicius de Morais, Ledo Ivo, Domingos Carvalho da Silva, Fausto Cunha; entrevistas com Murilo Mendes, Guignard, Oscar Mendes, José Geraldo Vieira.
Tentativa teve uma vida efêmera e é possível reuni-lo num só volume. Mas fico pensando – e agora esqueço Atibaia e penso na Paraíba – nas ótimas publicações literárias que tivemos aqui e que não custaria nada reunir em edições comemorativas e principalmente facsimilares.
Porque um jornal literário é também o estilo de compor, a tipologia das manchetes, as ousadias de diagramação, as ilustrações, as vinhetas, os anúncios... Em volta da literatura, toda a contaminação de estilos, de formas e de maneiras de ver que constroem uma época.
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