Imagino que o leitor conheça o monumento do Monte Rushmore, nos EUA, aquela imensa escultura na encosta de uma montanha, reproduzindo os rostos de quatro presidentes norte-americanos: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. Aparece de vez em quando na TV e nas revistas; e serviu de palco para uma das seqüências de perseguição mais memoráveis do cinema americano: a dos espiões caçando Cary Grant e Eve Marie Saint, em Intriga Internacional de Alfred Hitchcock. O monumento foi construído por uma enorme equipe chefiada pelo escultor Gutzon Borglum, tendo os trabalhos começado em 1927 e terminado em 1941.
Escultores antigos trabalhavam com martelo e cinzel (um instrumento pontudo), desbastando a pedra e dando forma às figuras que tinham na imaginação. Conta-se que Michelangelo explicou assim sua famosa escultura de Moisés: “O Moisés já estava dentro do bloco de pedra, tudo que fiz foi tirar o excesso”. A escultura é uma arte refinada, a arte que nada adiciona, apenas retira. E uma arte arriscadíssima, porque se tirarmos uma lasquinha que seja a mais, não há como repor. Cada golpe do martelo, cada beliscada do cinzel são irreversíveis.
O Monte Rushmore é uma das muitas obras que transportaram este princípio básico para a grande escala e a alta tecnologia dos tempos modernos. Em vez do cinzel, usam-se cargas de dinamite. A pedra é examinada para determinar os pontos exatos de colocação das cargas e a intensidade que devem ter. O excesso bruto de rocha é retirado, e o acabamento final é feito através de picaretas, lixas, etc. Imaginem só o tamanho do problema se uma explosão mal planejada bota abaixo duas toneladas de rocha. Lá se vai o nariz de Abraham Lincoln!
Um trabalho em escala muito mais impressionante está sendo feito há décadas no Crazy Horse Memorial, erigido em homenagem a Cavalo Doido, chefe índio falecido em 1877, que liderou os Sioux na batalha de Little Big Horn, onde foram dizimadas as tropas do General Custer. O escultor é Korczak Ziolkowski, que foi assistente de Borglum no Monte Rushmore. O projeto foi encomendado pelos índios Lakota, donos das terras onde o monumento está sendo esculpido. Depois de pronta, a escultura de Cavalo Doido será a maior escultura da Terra, com 195m de comprimento e 172m de altura, mostrando o chefe índio galopando em seu cavalo. Para se ter uma idéia, todas as quatro cabeças de presidentes do Monte Rushmore caberiam no interior da cabeça desta estátua descomunal. Detalhes podem ser apreciados em : http://www.crazyhorse.org/.
Estamos vivendo uma época meio faraônica, não é mesmo? Eu admiro tudo que é grandioso, e sempre lamentei que seis das sete maravilhas do mundo antigo não tivessem resistido à passagem do tempo. Sempre achei uma ironia que o Colosso de Rodes e a estátua de Júpiter Olímpico, tão descomunais, tivessem durado menos tempo do que uma peça de Sófocles ou um poema de Píndaro. Ironias da História.
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