sábado, 28 de fevereiro de 2009

0850) As Crônicas de Narnia (7.12.2005)



Está em todas as livrarias onde entro, espreitando-me do balcão principal, a maciça cabeça de um leão de olhos pensativos. Trata-se da tradução brasileira (Ed. Martins Fontes, 750 pgs.) das Crônicas de Narnia, o clássico de literatura infantil de C. S. Lewis, pela primeira vez com todos os sete livros reunidos num único volume. Cheguei a ler o primeiro, The Lion, the Witch and the Wardrobe, mas era difícil encontrar os títulos na ordem certa, e acabei deixando pra lá. Lewis foi um grande amigo de J. R. R. Tolkien, e não duvido de que o sucesso recente de O Senhor dos Anéis tenha trazido o nome e a obra dele à lembrança dos produtores de cinema (o filme de “Narnia” vai estrear em breve) e das editoras.

Lewis e Tolkien são uma dupla curiosa de escritores. Eram amigos, ambos ensinavam em Oxford, ambos eram homens introspectivos, ambos tinham um profundo problema religioso. E tornaram-se, quase ao mesmo tempo, dois dos principais autores de literatura fantástica da Inglaterra. Tolkien criou seu gigantesco universo da “Terra Média”, onde ambientou as histórias de O Hobbitt, O Senhor dos Anéis, O Silmarillion e tantas outras. Lewis escreveu uma trilogia de romances de ficção científica (Out of the Silent Planet, 1938; Perelandra, 1943; That Hideous Strength, 1945), em que os planetas do Sistema Solar servem como cenário da luta entre o Bem e o Mal. No final dos anos 1940, ele começou a publicar a série das “Crônicas de Narnia”.

Lewis era anglicano, Tolkien era católico. Os dois discutiam extensamente questões de literatura e religião, e tiveram profunda influência na obra um do outro. A rigor, quem quer que se interesse pela obra de Tolkien precisa dar uma espiada na obra de Lewis, para entender melhor o contexto em que as duas foram criadas. Não se pode esquecer também um terceiro escritor, Charles Williams, também autor de obras fantásticas; s três formavam um grupo informalmente chamado “os Inklings”. Lewis foi um típico intelectual solteirão até a idade madura, quando conheceu uma americana com quem se casou e teve um breve episódio de felicidade conjugal até a morte dela, poucos anos depois. Há um belo filme contando esta história, Shadowlands, com Anthony Hopkins e Debra Winger.

“As Crônicas de Narnia” foram lidas por milhões de crianças no mundo inteiro pelo simples prazer das aventuras que narram, e foram estudadas por centenas de acadêmicos pela complexa simbologia cristã que encerram. Fico meio temeroso quando vejo Hollywood adaptar obras desse tipo, porque na melhor das hipóteses o que pode acontecer é o que Walt Disney fez com “Alice no País das Maravilhas” de Carroll – um desenho simpático, criativo, divertido, mas a léguas de distância da riqueza de referências contidas no livro original. Em todo caso, os livros estão disponíveis em português, tanto na edição conjunta quanto em volumes separados.

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