("O assassinato de Marat", J. J. Weertz)
Não sei se essas coisas são noticiadas na Paraíba. Tomara que não sejam, porque poupa aos paraibanos o desprazer de constatar mais uma vez a estupidez humana. Mas, pensando bem, tomara que sejam, para que possamos nos consolar pensando que a estupidez humana não é privilégio nosso, está eqüitativamente distribuída por todo o território nacional.
Fato 1: Os jornais noticiam que, semana passada, em Petrópolis (RJ) um garoto de 7 anos arengou com uma coleguinha na escola e os dois meteram a merendeira na cabeça um do outro. O pai da menina deu queixa à polícia, e um oficial de justiça foi à casa do menino, intimando-o a ir prestar depoimento na delegacia.
Fato 2: Semanas atrás, num restaurante chique da Zona Sul do Rio, uma madame reclamou do charuto do cara da mesa vizinha. O cara disse que as mesas deles estavam na área de fumantes. A mulher insistiu, houve um bate-boca que foi aumentando de tom. A mulher julgou-se ofendida, anunciou que era mãe de uma Delegada, e passou a mão no celular. Minutos depois, dois ou três viaturas chegaram ao restaurante, com policiais armados, encapuzados, aquela SWAT toda, parecia cena de “Casseta & Planeta”. Tentaram prender o sujeito, que passou a mão na carteira e mostrou que era oficial aposentado das Forças Armadas: “Preso é que eu não vou”. Uma operação-de-guerra por causa de um charuto.
São dois sintomas do que eu chamo de “O Delírio do Andar de Cima”. A Revolução Francesa inventou ou pôs na roda uma porção de ideais democráticos e republicanos, direitos civis, etc. e tal. E esse arsenal ideológico foi apropriado pela elite do nosso país (à qual pertenço, e provavelmente você também, caro leitor). Vai daí que toda vez que um mosquito pousa no calo de alguém do Andar de Cima, toda a máquina jurídico-policial do país é mobilizada, porque foi ofendido um Cidadão. Essas pessoas têm uma noção desproporcional da própria importância. E sabem que basta dar uma carteirada ou ligar para um amigo influente para que todo o aparato tribunalício do País seja chamado para espantar o mosquito.
Será que eu sou contra as liberdades democráticas e o exercício da cidadania? De jeito nenhum. Mas episódios como estes que descrevi mostram a situação de delírio social em que vive o Andar de Cima. Direitos civis são um bem escasso, disputado a tapa pelos cinco por cento que mandam no País e pelos 15 ou 20% que brigam para fazer parte dos cinco. Existem no papel, existem no blá-blá-blá da imprensa, mas não existem de fato para todo mundo. É como aquela história do repórter de TV que chegou lá no sertão do Seridó, ou noutro lugar que estava sofrendo uma seca braba. O cara entrou num casebre miserável, cheio de crianças doentes, e depois de alguma conversa perguntou a um menino o que ele gostaria de ser. E o menino disse: “Eu queria ser um mico-leão dourado, porque tem tanta gente querendo cuidar deles!”
Fato 1: Os jornais noticiam que, semana passada, em Petrópolis (RJ) um garoto de 7 anos arengou com uma coleguinha na escola e os dois meteram a merendeira na cabeça um do outro. O pai da menina deu queixa à polícia, e um oficial de justiça foi à casa do menino, intimando-o a ir prestar depoimento na delegacia.
Fato 2: Semanas atrás, num restaurante chique da Zona Sul do Rio, uma madame reclamou do charuto do cara da mesa vizinha. O cara disse que as mesas deles estavam na área de fumantes. A mulher insistiu, houve um bate-boca que foi aumentando de tom. A mulher julgou-se ofendida, anunciou que era mãe de uma Delegada, e passou a mão no celular. Minutos depois, dois ou três viaturas chegaram ao restaurante, com policiais armados, encapuzados, aquela SWAT toda, parecia cena de “Casseta & Planeta”. Tentaram prender o sujeito, que passou a mão na carteira e mostrou que era oficial aposentado das Forças Armadas: “Preso é que eu não vou”. Uma operação-de-guerra por causa de um charuto.
São dois sintomas do que eu chamo de “O Delírio do Andar de Cima”. A Revolução Francesa inventou ou pôs na roda uma porção de ideais democráticos e republicanos, direitos civis, etc. e tal. E esse arsenal ideológico foi apropriado pela elite do nosso país (à qual pertenço, e provavelmente você também, caro leitor). Vai daí que toda vez que um mosquito pousa no calo de alguém do Andar de Cima, toda a máquina jurídico-policial do país é mobilizada, porque foi ofendido um Cidadão. Essas pessoas têm uma noção desproporcional da própria importância. E sabem que basta dar uma carteirada ou ligar para um amigo influente para que todo o aparato tribunalício do País seja chamado para espantar o mosquito.
Será que eu sou contra as liberdades democráticas e o exercício da cidadania? De jeito nenhum. Mas episódios como estes que descrevi mostram a situação de delírio social em que vive o Andar de Cima. Direitos civis são um bem escasso, disputado a tapa pelos cinco por cento que mandam no País e pelos 15 ou 20% que brigam para fazer parte dos cinco. Existem no papel, existem no blá-blá-blá da imprensa, mas não existem de fato para todo mundo. É como aquela história do repórter de TV que chegou lá no sertão do Seridó, ou noutro lugar que estava sofrendo uma seca braba. O cara entrou num casebre miserável, cheio de crianças doentes, e depois de alguma conversa perguntou a um menino o que ele gostaria de ser. E o menino disse: “Eu queria ser um mico-leão dourado, porque tem tanta gente querendo cuidar deles!”
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