Tenho
aqui do lado um tijolaço com mais de 700 páginas, o Dicionário do Nordeste de
Fred Navarro, autor do famoso Assim falava Lampião, um dicionário de termos
nordestinos que é de certa forma o embrião deste. O livro é editado pela CEPE (Companhia Editora
de Pernambuco), e faz uma coleta impressionante de termos ligados ao Nordeste:
geografia, culinária, cultura em geral, e, claro, a linguagem nordestinense. É
um livro utilíssimo para presentear os amigos não-nordestinos que vivem nos
perguntando o significado de palavras óbvias como guenzo, sulanca,
quebra-queixo, bacafuzada, corrimboque, lamborada, xeleléu, califom, aboticar,
berimbela...
Sou
suspeito ou insuspeito para falar, porque escrevi a “Apresentação” do livro,
onde desenvolvo outros raciocínios; mas queria me deter em alguns detalhes. O
primeiro é o fato de que todo mundo tem o impulso de registrar aquela linguagem
que sabemos pertencer apenas de maneira indireta ao português-brasileiro. Tenho
dicionários de baianês, de cearense, da ilha (=Florianópolis)... Em toda região
existe um glossário interno que funciona para os habitantes do lugar e que
muitas vezes não é captado por um Aurélio ou um Houaiss. Daí a vontade de cada
um fazer o seu dicionário. (Eu próprio venho montando um há décadas, mas agora
só publico quando estiver maior do que o de Fred Navarro.)
Quanto
à abrangência basta dizer que o livro registra, corretamente definidos, termos
como “trezeano” e “raposeiro”. Ele se expande na direção da culinária anotando
termos como molho baiano, laranjinha, mariola, mingau de cachorro... Em
brincadeiras infantis há palavras como durim-pampam, peido de velha, bacondê, escorrega-bunda,
barra-bandeira... Na flora, vejo ao acaso galinha-choca, caroá, fumo-bravo-do-ceará,
mucuri, língua-de-vaca, dona-joana... Na fauna, há termos como
percevejo-de-comércio, pitangá, lagarta-de-fogo, mutum-de-alagoas...
2 comentários:
Bráulio, e onde se encontra essa maravilha? Preciso de um exemplar!
Pode ser encomendado nas boas livrarias, Josie.
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