O colombiano Alejandro Ulloa,
antropólogo, morou alguns anos no Brasil e aqui defendeu sua tese de mestrado
na Unicamp, em 1991, a qual resultou no livro Pagode – a festa do samba no Rio
de Janeiro e nas Américas”(MultiMais Editorial, Rio, 1998). Ulloa estudou o
pagode carioca, não esse pagode estilizado das TVs, mas o pagode de fundo de
quintal onde as pessoas se reúnem para “cantar, tocar, dançar, comer e beber”.
Sobre o termo “pagode” ele comenta um detalhe que ocorre também com o forró: a “operação
linguística de nomear a música e o acontecimento da festa com o mesmo termo”, o
que mostra que a música está ligada de modo crucial à convivência, ao coletivo,
ao compartilhamento de vidas.
Depois de examinar exaustivamente
o mundo do samba e comparar sua trajetória de ascensão social com a do tango
argentino, etc., Ulloa discute a questão do Modernismo nas artes na virada do
século 19 para o 20, quando esse movimento se firmou no romance, na poesia, nas
artes plásticas, etc., e expõe sua teoria principal: “A maior contribuição da
América Latina para o modernismo não se deu nas artes plásticas, nem na música
erudita, nem na literatura, nem na poesia, como nos foi dito tantas vezes, mas
na música popular”. Para ele, no campo
literário e erudito “nossos modernistas eram representantes de si mesmos, e não
da nação”.
Ele vê no samba, no tango, no
danzón, na rumba, na salsa, etc. os mesmos elementos (pág. 201 e seguintes).
Todos nascem na segunda metade do século 19, nas cidades mais importantes de
cada país. Nascem em bairros pobres, geralmente próximos ao cais do porto. Têm
um forte ascendente religioso e ritualístico, de origem africana. Apresentam
uma linguagem musical sincopada, e têm uma expressão dançável (música para
ouvir, e também para dançar). Todos foram, no início, objeto de perseguição,
proibição e estigma. Numa fase posterior, foram aceitos pelas elites
intelectuais e se tornaram parte dos símbolos nacionais; e, por fim, tornaram-se
o principal sustentáculo da indústria do espetáculo e do entretenimento.
2 comentários:
A linha ascencional da música popular americana mostrada no documentário A História do Jazz tem essa característica de porto no delta do rio Mississipi, de Neew Orlenas ter sido um centro cosmopolita, onde todas as etnias da Terra confluíram para lá. Enfim, fenômenos humanos pelo viés econômico.
Começa sempre assim, com a mistura social e a alegria das classes baixas. Num futuro próximo, iremos reconhecer o funk como expressão legítima do país - claro que muita gente elitista vai morrer do coração. (Até hoje tem gente que não aceita o samba.)
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