Leitores de FC hão de lembrar que o livro Greybeard de
Brian Aldiss (1964), traduzido no Brasil como “Herdeiros da Terra” (Bruguera) e
como “Jornada de esperança” (Ed. Abril) tem a mesma premissa, e seu
protagonista, o Barba Grisalha, é o ser humano mais jovem num mundo onde todos
têm cabelos brancos. O filme de Cuarón se abre mostrando na primeira sequência
a morte do ser humano mais jovem dessa época, um garoto de 16 anos. O mundo
está em caos mas a Inglaterra, na base da Lei Marcial, consegue manter um
arremedo de ordem, principalmente barrando a entrada de milhões de imigrantes
ilegais. (Ainda existem milionários – um deles salvou e trouxe para casa o
“Davi” de Michelangelo e a “Guernica” de Picasso). O protagonista, Clive Owen,
recebe a incumbência de conseguir papéis falsos para uma garota imigrante e
escoltá-la até a fronteira.
É uma história violenta, com tiroteios, mortes brutais,
muito suspense. E é um filme totalmente diferente dos chamados “filmes de ação”
de hoje em dia, os filmes-sobre-carros-explodindo. Cuarón usa para o suspense
um recurso clichê, a corrida contra o tempo – os personagens têm dois dias para
chegar num ponto tal, clandestinamente, sendo perseguidos por diferentes
grupos. Os tiroteios são intensamente reais, porque ao invés do “BUUUUUM!” dos
tiros em Dolby-stereo de hoje em dia as armas fazem aquele “pá” meio abafado
que corresponde a um tiro de arma de fogo de verdade. Há planos longos de
perseguição, dirigidos com primor. O mundo onde tudo isto se passa é lúgubre,
tenso, sofrido. É uma mistura de V de Vingança, Blade Runner, 1984, Esperança e Glória (aquele filme de John Boorman sobre a infância em Londres
durante a Guerra).
Um comentário:
Cuarón é um baita diretor.Assista sem medo "E a sua mãe também". Foi o filme mais "literário" que assisti.
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