O novo filme de Ridley Scott parece iniciar uma fusão entre
os dois clássicos que ele dirigiu na FC (Alien, o 8. passageiro, 1979, e Blade Runner, 1982). Os filmes
ocorrem em diferentes universos, oriundos de autores não relacionados um ao
outro, mas que Scott parece querer botar esses universos embaixo da sua própria
asa. Em ambos os filmes existiam
andróides (chamados “replicantes” em Blade Runner) e parece ser este o elo
entre as duas linhas ficcionais. Em Alien e Prometheus não vemos a Terra, a não ser em duas cenas curtas no
início do segundo filme, cenas em lugares desertos, que nada nos mostram da
realidade urbana desse futuro. Uma Terra capaz de gastar um trilhão de dólares
mandando uma nave a um planeta distante, para que dois arqueólogos confirmem ou
não sua tese sobre a origem de humanidade. Será a mesma Terra cuja Los Angeles
em 2019 produzia replicantes?
Se as histórias vão se mesclar através do enredo, contudo, é
menos importante do que o fato de que se mesclam através da temática. A expressão “encontrar o seu criador” (“to
meet thy maker”), usada em Blade Runner, é retomada insistentemente neste
filme, só que desta vez não são os replicantes que querem um tête-à-tête com o
engenheiro que os criou (Tyrell, da Tyrell Corporation) e sim os humanos que
descobrem (ou imaginam ter descobertos) indícios de que a humanidade foi criada
por uma raça de Engenheiros que veio de outra parte da Galáxia.
Blade Runner já questionava a frieza com que os humanos
tratavam os replicantes, frieza e insensibilidade dignas de qualquer
andróide. O David de Prometheus é um
andróide que trata os humanos com a polidez impecável e desdenhosa de um
mordomo inglês administrando uma família nobre mas disfuncional; mas a
executiva de carne e osso interpretada por Charlize Theron não é mentalmente
menos andróide do que ele. Ela e David
confirmam a frase de Philip K. Dick de que alguém que não se preocupa com o
sofrimento de uma criatura viva é uma máquina, mesmo que seja uma criatura
viva.
2 comentários:
Apesar de achar que Prometheus tinha potencial de ser um grande e redefinidor filme de ficção científica, não gostei dele. Minha impressão é de que há uma sutil, quase subliminar, mensagem anti-científica no filme todo. O que parece ser uma nova tendência em filmes e séries americanas que, ironicamente, são vistos como pertencendo ao gênero ficção científica. É o caso de Prometheus, mas também Avatar e Fringe. A mensagem parece ser "a ciência é má porque está tomando o lugar e o papel de Deus". Espero estar enganado.
Em Prometheus, pelo menos, há a ciência da Corporação que envia a nave (utilitária, pensando em lucros e orçamentos)e a ciência do casal de antropólogos que descobre a mensagem dos Engenheiros. O roteiro descreve um combate entre essas duas visões, com vitória (provisoriamente) da segunda.
Postar um comentário