Uma foto tem circulado nas redes sociais, mostrando dois
homens de terno, frente a frente. São eles o presidente-ditador Getúlio Vargas
e o ex-cangaceiro Antonio Silvino, que recebera indulto após 23 anos de cadeia,
por bom comportamento (havia sido condenado a 239 anos). Diferentemente de
Lampião, que em vinte anos de cangaço nunca foi preso, Silvino cumpriu pena,
alfabetizou-se na prisão, converteu-se ao protestantismo e trabalhou em vários tipos de artesanato até
receber o indulto de Vargas. São duas histórias diferentes, dois finais
diferentes. Lampião, que era 23 anos
mais novo, morreu numa emboscada na gruta de Angicos em 1938. Silvino, aprisionado em 1914 (antes mesmo de
Lampião entrar para o cangaço) morreu em 1944, na casa de uma prima, em Campina
Grande. (Quando eu era menino, várias vezes me mostraram a vilazinha humilde
onde ele findou seus dias, em frente à Praça Félix Araújo, esquina com a
Arrojado Lisboa).
A carreira de Silvino está documentada nos folhetos de
Francisco das Chagas Batista, que cobrem suas aventuras até 1912. Uma ótima avaliação deles está em Memória
de Lutas de Ruth Brito Lemos Terra (Global, 1983), onde ela compara a
abordagem de Chagas Batista, mais documental, com a de Leandro Gomes de Barros,
mais fantasiosa e romantizada. Tal como Lampião, Silvino foi exaltado por
poetas e escritores como um guerreiro nobre e ético. Em As Infâncias de
Quaderna, de Ariano Suassuna, é ele quem resgata o menino Quaderna, raptado
por ciganos, e o devolve à família; em Menino de Engenho, José Lins do Rego
reconstitui uma visita do cangaceiro ao coronel José Paulino, que o recebe à
mesa, com todas as honras.
4 comentários:
ao ler sua postagem me veio logo a cabeça esse poema:
Bom é ser Silvino
Pai de Lampião
Filho de cabreiros
Neto do Sertão
Silvino, o temido
De punhal ligeiro
De esperança morta
E fogo certeiro
Lampião, o louco
Desacorrentado
Um olho de tigre
O outro de espasmo
Vindos da vingança
Vereda amargosa
Da pedra bonita
De aura sanguinosa
Bom é ser do mundo
Onde o sangue é sangue
E o silêncio é fundo
Janice Japiassu// em O cangaço na poesia brasileira, seleção de Carlos Newton Júnior. Escrituras Editora, telefone 11-5904-4499
Esse post me surpreendeu. Desconhecia a nobreza de Silvino, ao contrário do cangaceiro mais famoso - Lampião. E mais, a veia racista de Graciliano Ramos. Reconheço a grandiosidade da obra do "Velho Graça", mas é duro saber disso.
Era preciso ver todo o artigo. Tenho pra mim que pode ser imensa ironia do Graciliano. A começar pelo fato de que ele sabia que Antônio Silvino não era um homem branco. Era um caboclo, do que está cheia a obra de Graciliano.
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