sábado, 1 de outubro de 2011

2676) “A Morte Cansada“ (1.10.2011)



Este é um clássico do cinema mudo que eu não conhecia e vi agora em DVD. Der müde Tod, de Fritz Lang (1921), é distribuído também com o título inglês de “Destiny” e o francês “Les Trois Lumières”. 

O título original, A morte cansada, se refere ao personagem principal, que é a Morte propriamente dita. Ao levar consigo um rapaz e ver sua noiva pedi-lo de volta, a Morte explica que está cansada de levar gente para o túmulo, mas o faz por obrigação. Compadecida, ela dá um jeito de fazer o casal existir de novo em três épocas e países diferentes, e diz que se eles conseguirem evitá-la em apenas uma dessas três chances terão o direito de ficar juntos. 

Esta é a narrativa-moldura; e dentro dela surgem os três episódios, passados na Pérsia, em Veneza e na China, em que três casais (interpretados pelos mesmos atores, Lil Dagover e Walter Janssen) vivem três histórias trágicas. 

Este filme, ao que se diz, era o filme preferido de Alfred Hitchcock, e o filme que fez Luís Buñuel tomar a decisão de fazer cinema. Há um pouco dele nos casais acometidos de “amor louco” em Um Chien Andalou (1928) e L’Âge d’Or (1930). Além desses dois, há uma influência visível sobre Bergman: a Morte de O Sétimo Selo é claramente inspirada no sombrio personagem que Bernhard Goetzke interpreta aqui. 

Lang já mostra algo das concepções arquitetônicas que desenvolveria em Metrópolis (1926), como o muro gigantesco por trás do qual a Morte se esconde. Os três episódios históricos sobre um mesmo tema parecem uma influência do Intolerância de Griffith (1916), e todos têm estilos próprios de cenografia, figurino, direção de arte; no total, são quatro filmes bem distintos, do ponto de vista visual. 

Como todo filme mudo, principalmente filmes fantásticos, tem algo de folheto de cordel. Seu subtítulo original, “ein Deutsches Volkslied in sechs Versen” (“Uma canção popular alemã em seis versos”) tanto indica sua fonte de inspiração quanto cria uma ponte inesperada de parentesco. 

Outra conexão que não sei se alguém terá percebido é o fato do filme talvez ter influenciado Carlos Drummond a escrever a sua “Balada do Amor Através das Idades” do seu livro de estreia, Alguma Poesia (1930): “Eu te gosto, você me gosta / desde tempos imemoriais. / Eu era grego, você troiana...” 

Como no filme de Lang, o casal do poema se encontra em ambientações históricas diferentes, se apaixona, e morre tragicamente. No final (a surpresa modernista!) reencontra-se no mundo moderno, e “eu, herói da Paramount / te abraço, beijo e casamos”. A referência cinematográfica no fim, portanto, pode ser um indício de como veio ao poeta a idéia original.






Um comentário:

Cassionei Petry disse...

Esse filme é maravilhoso. Destaque para os efeitos especiais.