sábado, 14 de agosto de 2010

2320) Pagu (14.8.2010)




Este ano completam-se cem anos de nascimento de Patrícia Galvão, conhecida como Pagu, uma das figuras mais curiosas (e talvez a mulher mais bonita) do Modernismo brasileiro.

Pagu é ainda hoje uma espécie de nota ao pé da página do Modernismo, citada na maioria dos artigos como ex-esposa de Oswald de Andrade, como musa do movimento, e como romancista que escreveu um livro sobre operários (Parque Industrial, 1933) numa época em que estes eram meio que invisíveis para a literatura brasileira, com exceção dos comunistas. O que ela foi, aliás.

Foi também uma mulher irreverente e em certa medida escandalosa, cujos trajes e atitudes deixavam aflitas as famílias da época; uma espécie de Anayde Beiriz da Paulicéia Desvairada.

Para os cinéfilos brasileiros, Pagu é a mãe do recentemente falecido Rudá de Andrade, crítico de cinema, professor da USP e ex-conservador da Cinemateca Brasileira.

Para outros críticos, de pendores mais literários, é a mãe do escritor Geraldo Galvão Ferraz, aliás um entusiasta da ficção científica.

A biografia de Pagu é cheia de lances surpreendentes. Dirigiu peças de Arrabal e Ionesco, foi presa em Paris como comunista, trouxe da China sementes de soja e as introduziu no Brasil... Foi tema de canções, filmes e livros, e de um livro de Augusto de Campos; mas ainda falta uma dessas biografias extensas e detalhadas que dê conta da personagem fascinante que certamente foi.

Os eventos em homenagem ao seu centenário podem ser consultados aqui: http://www.pagu.com.br/blog/home/.

Falarei dela sob outro ângulo. A maioria dos jornalistas brasileiros em atividade digitou os caracteres “pulp fiction” pela primeira vez graças a Quentin Tarantino, que eles julgam ser o inventor dessa expressão. Não foi, e o Brasil teve “pulp fiction” durante muitos anos, embora fosse uma ficção traduzida, com poucos autores locais.

Um desses autores foi Pagu, que escreveu contos policiais publicados nas revistas da época, sob o pseudônimo de King Shelter (parece pseudônimo de roqueiro colombiano). Os contos policiais de Pagu foram reunidos pelo seu filho Geraldo Galvão Ferraz num volume intitulado Safra Macabra. Foram publicados entre junho e dezembro de 1944 na revista Detetive, cujo editor era Nelson Rodrigues.

Era uma época em que revistas populares de contos policiais (pulp magazines) eram publicadas no Brasil, tentando emular o sucesso que faziam nos EUA. Eram revistas como Mistérios, Meia Noite, A Novella, etc.

As que tiveram vida longa, como Detetive ou X-9 não revelaram autores nacionais, limitando-se a traduzir o material enviado pela matriz novaiorquina.

Ou talvez não. Assim como o pseudônimo King Shelter escondia uma intelectual de esquerda que dirigia peças do Teatro do Absurdo (mas precisava descolar uma grana para o aluguel do apartamento e o leite das crianças), talvez muitos outros nomes escondam personagens de cuja identidade nem suspeitamos.





2 comentários:

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...


desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ


TE SIGO TU BLOG




CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...


AFECTUOSAMENTE
BRAULIO

ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

José
Ramón...

Fidélia disse...

"O meu diogenes espalhafatozo
O meu primeiro amor
que acabou com o segundo"
(In Pagu-Vida e Obra, Ausgusto de Campos)

Como você falou, Bráulio, Pagú realmente foi uma Anayde da Paulicéia Desvairada!