Para as pessoas que não tomam drogas, a Terra é a única realidade, é o único mundo que elas conhecem. Para os que tomam, existem duas outras realidades: o Paraíso e o Inferno, porque estes dois sempre andam juntos, a existência de um é sempre equilibrada pela existência do outro.
Existem pessoas para as quais a existência normal, cotidiana, já tem prazeres e problemas de sobra. Existem outras, no entanto, para quem esta existência é banal, comportada, descolorida, muito sem graça. Querem experimentar sensações diferentes, querem prazeres intensos, querem forçar os próprios neurônios a impressões de uma força quase insuportável, querem ir até o limite da própria mente e dos próprios nervos, mesmo sabendo que o preço a pagar pode ser alto demais. É aí que entra a droga.
Para mim, o maior erro na discussão pública sobre as drogas é considerá-las um problema de ordem moral, quando esta é uma questão que só se coloca muito mais adiante.
Muitos dos que são contra as drogas acham que usá-las é um ato de baixeza moral, e as pessoas que as usam são necessariamente más, ou pusilânimes, ou depravadas em algum aspecto.
Segundo esse raciocínio, se uma pessoa usa drogas este é um motivo suficiente para nos afastarmos dela, para evitá-la, proibir que nossos filhos convivam com ela; para nos queixarmos ao síndico, fazermos abaixo-assinados pedindo que essa pessoas seja excluída dos círculos sociais a que pertencemos. Porque uma pessoa que usa drogas é uma pessoa que tem um grave defeito moral.
Isto está errado. Existem milhões de pessoas que usam drogas e que são moralmente questionáveis, mas uma coisa não é a causa da outra. Nem todo mau caráter usa drogas, e nem todos os que usam drogas são maus caráteres (o plural desta palavra é uma questão à parte, que vou deixar para outro artigo).
Não é por canalhice que as pessoas procuram as drogas, é por variados tipos de carência psicológica (uma necessidade de compensações ou de experiências extraordinárias, mesmo que ao risco de sofrimentos extraordinários) que, em si, não constituem um defeito, nem uma baixeza, nem uma calhordice. Procuram algo parecido com o que as pessoas procuram em variadas atividades, quando dizem: “ah, isso aqui é minha terapia...” ou então “gosto de fazer isso por causa da adrenalina”.
Existe gente que encontra essa adrenalina no alpinismo, no videogame, na dança de salão, no skate, no excesso de velocidade ao volante, em práticas sexuais pouco ortodoxas, no paraquedismo, nos jogos de cassino, no esqui, em mil e uma atividades que nos tiram da realidadezinha besta e nos colocam numa situação de concentração total da mente e alta produção das adrenalinas, endorfinas, serotoninas ou sei lá que diabo o organismo segrega durante esses minutos.
Quem recorre às drogas o faz porque elas são hoje muito mais acessíveis do que esses substitutos. Combatê-las (substituí-las por algo mais saudável e igualmente excitante) não é tão difícil assim.
2 comentários:
"Não é por canalhice que as pessoas procuram as drogas, é por variados tipos de carência psicológica (uma necessidade de compensações ou de experiências extraordinárias..."
Isso é tão simples, e tão dificil de entender...
PARABENS PELO ARTIGO!!
gugagumma.blogspot.com
Tomar drogas é mais "perigoso" do que "moralmente condenável". Deveria haver uma informação maior sobre os perigos de cada droga, e sobre o fato, ignorado por muita gente, de que algumas pessoas são excessivamente vulneráveis a esta ou aquela droga, assim como há gente que não pode comer glúten. Há muita gente que usa mal a droga, assim como há gente que usa mal o sexo, usa mal o dinheiro, etc. O mal não está na droga, no sexo ou no dinheiro em si.
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