Este é um assunto que volta e meia reaparece na imprensa. Há alguns meses divulgou-se a criação de um destes cursos de formação de escritores no Rio Grande do Sul, e a polêmica recrudesceu. Como o moído é grande, pegarei para analisar apenas duas idéias, uma de cada lado.
A turma A diz: “É impossível ensinar alguém a ser escritor. Qual foi a faculdade que ensinou a Machado de Assis, a Guimarães Rosa?”
A turma B diz: “Ser escritor é uma profissão como qualquer outra: médico, engenheiro, jogador de futebol... Queremos ensinar a técnica, o talento é por conta do aluno”.
Vamos à frase A. Guimarães Rosa, Machado, e tantos outros são exemplos de auto-didatismo que deu certo. Eles não freqüentaram cursos de literatura. Cada um deles criou um curso de literatura para uso próprio. Leram de tudo, e leram em vários idiomas, para não ficar dependendo apenas do mercado editorial da província. Conviveram em diferentes círculos de idéias; compararam uns aos outros, superaram a todos. Grandes escritores formam-se, muitas vezes, à margem das regras e das normas. Se houvesse escolas de literatura naquele tempo, e eles as tivessem freqüentado aos vinte anos, talvez tivessem sido inutilizados para sempre. Muitos (tão bons quanto eles) provavelmente foram.
Vamos à frase B. Ser escritor é uma profissão? Às vezes. Eu, por exemplo, sou um escritor profissional. Ganho a vida escrevendo artigos de jornal, traduções, press-releases, críticas e resenhas, roteiros de cinema e TV, letras de música, ensaios, peças de teatro. Só não escrevo bula de remédio e bilhete de suicida. É possível ganhar a vida como escritor, mas isso não tem nada a ver com a Arte Literária. Talvez em cada vinte escritores profissionais, no Brasil, apenas um viva de Literatura.
Escrever profissionalmente é outra coisa, e para esta, cursos e faculdades são necessários. Um escritor profissional deve saber mais gramática do que a média da população, saber usar diferentes registros de voz e de discurso, imitar estilos, produzir texto sob encomenda com idéias que não são suas (se não concordar com elas, é só recusar a encomenda). Um escritor profissional escreve por si e por outras pessoas. Para isto, precisa de formação básica, treino, rigor, auto-crítica.
Curso de literatura não é para formar grandes autores, assim como uma Auto-Escola não visa formar um campeão de Fórmula-1. Ambas querem ser apenas um primeiro passo, sem o qual ninguém chega ao pico do Everest. Faculdades de literatura não formam literatos, assim como escolas de Belas Artes não formam artistas.
Vamos à frase A. Guimarães Rosa, Machado, e tantos outros são exemplos de auto-didatismo que deu certo. Eles não freqüentaram cursos de literatura. Cada um deles criou um curso de literatura para uso próprio. Leram de tudo, e leram em vários idiomas, para não ficar dependendo apenas do mercado editorial da província. Conviveram em diferentes círculos de idéias; compararam uns aos outros, superaram a todos. Grandes escritores formam-se, muitas vezes, à margem das regras e das normas. Se houvesse escolas de literatura naquele tempo, e eles as tivessem freqüentado aos vinte anos, talvez tivessem sido inutilizados para sempre. Muitos (tão bons quanto eles) provavelmente foram.
Vamos à frase B. Ser escritor é uma profissão? Às vezes. Eu, por exemplo, sou um escritor profissional. Ganho a vida escrevendo artigos de jornal, traduções, press-releases, críticas e resenhas, roteiros de cinema e TV, letras de música, ensaios, peças de teatro. Só não escrevo bula de remédio e bilhete de suicida. É possível ganhar a vida como escritor, mas isso não tem nada a ver com a Arte Literária. Talvez em cada vinte escritores profissionais, no Brasil, apenas um viva de Literatura.
Escrever profissionalmente é outra coisa, e para esta, cursos e faculdades são necessários. Um escritor profissional deve saber mais gramática do que a média da população, saber usar diferentes registros de voz e de discurso, imitar estilos, produzir texto sob encomenda com idéias que não são suas (se não concordar com elas, é só recusar a encomenda). Um escritor profissional escreve por si e por outras pessoas. Para isto, precisa de formação básica, treino, rigor, auto-crítica.
Curso de literatura não é para formar grandes autores, assim como uma Auto-Escola não visa formar um campeão de Fórmula-1. Ambas querem ser apenas um primeiro passo, sem o qual ninguém chega ao pico do Everest. Faculdades de literatura não formam literatos, assim como escolas de Belas Artes não formam artistas.
Universidades formam técnicos. Artistas surgem aleatoriamente. A arte fica um nível acima da simples técnica. O artista assimilou a técnica mas tem um fator desequilibrante, tem uma visão pessoal que faculdade alguma fornece. Mas se surgirem faculdades ensinando gramática e expurgando clichês... ah, meu amigo, os leitores brasileiros agradecem, e muito.
3 comentários:
Por isso jamais me considerei um “escritor”. Minha gramática é claudicante (na verdade, jamais a compreendi), minha construção é errática e os clichês são amigos de infância, daqueles que se aboletaram no quarto dos fundos e nunca foram embora.
Todos nós que queremos escrever começamos como alunos relapsos. O que pode nos salvar é virarmos professores de nós mesmos.
Eu acho que o escritor vai se formando ao longo de sua jornada. Cada um começa de uma forma, com influências próximas, como os pais, outros vão começando aos trancos e barrancos, dependendo mais de si mesmo e de seu interesse.
Assim, a técnica torna-se importante para todos, mas os talentos vão surgindo independente disso. E cabe ao potencial escritor buscar melhorar sempre, aprender mais a técnica, seja nos livros, ou com amigos mais experientes - algumas conversas são verdadeiras aulas.
Não necessariamente um cara que escreve com profissionalismo ganha dinheiro com isso, e muitos sonham com isso.
Ser escritor é um trabalho de uma vida toda, e de todos os momentos. Pois há quem diga que um escritor está trabalhando até quando não está escrevendo.
Excelente artigo, Bráulio!
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