quinta-feira, 11 de junho de 2009

1089) Sou feliz por um triz (12.9.2006)



Pesquisa do Datafolha divulgada recentemente pelo “Jornal Nacional” mostra que 76% dos mais de 7 mil entrevistados se consideram felizes. Outros 22% se acham “mais ou menos felizes”, o que apesar da ressalva me parece de bom tamanho para auto-diagnóstico existencial. Em seu blog, o jornalista Ricardo Noblat pergunta: “Se eles se sentem assim por que embarcarão no discurso da mudança? E da mudança para quê? (...) E depois digam por que um eleitorado que se declara tão feliz vai querer mudar muita coisa”.

Noblat faz este comentário, evidentemente, com um olho na pesquisa e o outro na campanha eleitoral. Eu não sei em que contexto foi feita a pesquisa. Talvez ela fizesse apenas a pergunta, a seco: “Você se considera feliz?” Talvez a pergunta fosse: “Dentro do atual contexto político-eleitoral brasileiro, você se considera feliz?” Talvez houvesse uma série de perguntas sobre eleições e política partidária, e no fim a pergunta sobre felicidade, que inevitavelmente viria contaminada pelas anteriores. Não sei, não vi.

Serei um excêntrico? Se um pesquisador de prancheta em punho toca à minha campainha e me pergunta se eu me considero feliz, nem por um instante me passa pela cabeça que minha felicidade esteja condicionada pelo fato do Partido tal ou tal ou do indivíduo Fulano ou Sicrano estar ocupando a Presidência da República. Minha felicidade é assunto meu, e o Governo está lá longe, fazendo seus discursos. Ele que passe bem e me deixe em paz. E eu acho que a maioria dos brasileiros também pensa assim. Minha felicidade pessoal depende do momento que estou vivendo junto às pessoas que me são caras, à minha família, meus amigos. Depende do meu trabalho: como estou me saindo, se estou fazendo coisas que considero importantes, se além de importantes elas são agradáveis, se estou sendo bem pago. Depende do meu cotidiano: se minha saúde está em ordem, se minha casa tem um espaço adequado e equipamentos satisfatórios. Depende de minha capacidade de estar fazendo planos para o futuro.

Nem todas estas coisas precisam estar 100%. Às vezes basta um problema mais sério (saúde, por exemplo) para empanar o brilho de todo o resto. Mas o conceito de felicidade pessoal do brasileiro não está muito ligado a quem ocupa a Presidência da República. Alguém pode objetar que as condições que enumerei acima dependem, sim, da política: salário, habitação, saúde, transporte... Claro. Mas a maioria delas depende mais do prefeito do que do presidente. E não é nenhum dos dois que vai me dizer se devo ser feliz ou não.

Eu me acho um sujeito cético, desconfiado, calejado pelas desilusões da vida pessoal e da vida pública. Na pesquisa, estaria na turma do “mais ou menos feliz”, mas por mera cautela, para não despertar as Parcas. Quando um brasileiro afirma que é feliz, é por um ato de coragem e de fé, um ato cuja essência é moral e pessoal, e não tem nada a ver com o rodízio nos escalões de cima do Funcionalismo Público.


Um comentário:

Neusa Maria de Azevedo disse...

Adorei ler sobre sua opinião de ser feliz por um triz. Realmente temos um mundo pessoal e um político e muitas vezes eles não se comungam, somos bipartidos.

Envio pra voce meu link de um blog de poemas meus.
http://poemasdeneusaazevedo.blogspot.com/

Um abraço
Neusa Azevedo