sábado, 8 de maio de 2010
2016) Mostra Jodorowsky em JP (25.8.2009)
O Cine SESC, no centro de João Pessoa (Rua Desembargador Souto Maior, 281) está exibindo esta semana uma mostra do cinema de Alejandro Jodorowsky, sobre quem já escrevi nesta coluna. A Mostra exibiu ontem, segunda-feira, La Cravate, curta-metragem de 1957. Hoje, passa Fando e Lys (1968), uma parceria do diretor com o espanhol Fernando Arrabal (o autor de Piquenique no Front e outros clássicos do teatro do Absurdo). Amanhã será exibido o faroeste metafísico El Topo (1970), que tornou Jodorowsky um sucesso “cult” em Nova York e criou, de certo modo, o gênero chamado de “midnight movies”. E na quinta-feira passa A Montanha Sagrada (1973), que em termos das produções precárias e inventivas do diretor pode ser chamado de super-espetáculo. As sessões são gratuitas, e acontecem ao meio-dia e às 18 horas. O telefone do Setor de Cultura do SESC é 3208-3158.
Jodorowsky é uma figura fascinante, e em 2007 foi exibida aqui no Rio de Janeiro uma mostra bem mais extensa de sua obra, inclusive o longa Santa Sangre e vários curtas. Um dos aspectos mais interessantes do diretor salta aos olhos quando a gente folheia um catálogo ou um apanhado qualquer de críticas a seu respeito: é a enorme variedade de nomes com os quais ele é comparado. Uns citam Sérgio Leone, outros Rocky Horror Show. Alguns o comparam aos quadrinhos de FC de Moebius e outros aos filmes de Buñuel . Seu estilo fragmentado e surpreendente lembra o de Glauber Rocha e também o de David Lynch. Sua predileção foi criaturas grotescas evoca Fellini e ao mesmo tempo evoca o Expressionismo alemão.
Jodorowsky é um desses criadores inquietos que estão se lixando para coerência estética ou para a criação de um “estilo pessoal”. Uma das características mais interessantes do seu cinema é uma sensação permanente de que tudo pode acontecer, de que não existe nenhuma regra, nenhum limite, nenhuma barreira. Em vez de ser um cineasta até a medula, ele é um criador híbrido, que escreve romances e poemas, investiga o Tarô e a magia, escreve histórias em quadrinhos e peças de teatro, recorre ao romance policial, à ficção científica e ao surrealismo. Ou seja, todos esses gêneros ou linguagens são meros instrumentos dos quais ele lança mão quando lhe convém, criando uma “salada” expressiva que poderia resultar em mero papel-carbono, se não fosse justamente essa permanente imprevisibilidade que ele impõe a suas narrativas.
Os filmes de Jodorowsky não são para qualquer público, e eu pagaria o preço de dez ingressos pelo prazer de ver um “público de cinema de shopping” entrando, inadvertidamente, numa sessão de El Topo pensando que se trata de um filme de cowboy, ou de A Montanha Sagrada pensando que se trata de um filme místico. Cada um deles é exatamente isso, mas de uma maneira tão inesperada e heterogênea que um espectador casual correria o risco de fritura irremediável dos neurônios.
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