domingo, 13 de maio de 2012

2869) O professor e a bruxa (13.5.2012)



Um capítulo crucial sobre a história da mente humana está cristalizado para sempre no trágico episódio que teve início no IX Colóquio de Ultra-Ciência em Estocolmo, quando o Prof. Georges Landsfeld fez uma palestra com um corrosivo ataque às ciências ocultas, em especial à bruxaria, que ele descartou sarcasticamente como “uma subcultura de fantasias eróticas para mulheres feias”.  Aberta a palavra ao público, ergueu-se uma dama da platéia que verberou energicamente o palestrante, qualificando-o de “machista”, “carente de bibliografia” e “impostor” (questionando a legitimidade do doutorado obtido por Landsfeld em Oxford). Pessoas presentes a reconheceram como uma tal Mme. Gauthier, de Paris, cultivadora das ciências ocultas e da magia ritual.  Seguiu-se um acalorado debate entre os dois, que logo degenerou em ofensas pessoais por parte do professor, sendo a conferência encerrada sob certo tumulto. Mme. Gauthier retirou-se (segundo testemunhas) dizendo que “aquilo não iria ficar assim”.

Meses depois, começaram a circular nos fóruns da web notícias de que Landsfeld estava sofrendo de uma rara doença neurológica, de evolução muito rápida. Tratamentos de urgência conseguiram retardar o avanço do mal.  Após semanas de insuportável tensão, a família e os colegas de Landsfeld o aconselharam timidamente a desculpar-se junto a Mme. Gauthier. Ele recusou-se, afirmando: “Esta doença nada tem a ver com as ameaças dela”. Procurada em segredo por colegas do professor, Mme. Gauthier minimizou o episódio, dizendo com sarcasmo: “Se ele diz que a culpa não é minha, quem sou eu para discutir com um PhD”. 

O estado de saúde de Landsfeld agravou-se. Seus editores assinaram um vultoso contrato de publicação para quatro manuscritos inéditos de Mme. Gauthier, na tentativa de apaziguá-la. Ela continuou a negar qualquer envolvimento com o caso. Num jantar discretamente arranjado em Londres, com a esposa e o filho do professor, ela afirmou: “Feitiços desse porte só funcionam se a vítima pretendida acreditar em sua eficácia.  Não é o caso do Prof. Landsfeld, visivelmente.  Tudo indica que ele está sofrendo de um mal a que qualquer um de nós está sujeito. Mas, se for feitiço e ele admitir que acredita, a pessoa que lhe causou este mal talvez possa, com a ajuda dele, reverter os efeitos”. Limpando os lábios com um guardanapo imaculadamente branco, ela sorriu: “Mas eu conheço os intelectuais como seu marido, Mrs. Landsfeld. Eles preferem morrer a confessar que estavam errados”. Landsfeld morreu quinze dias depois, dizendo: “Que ignorância, que absurdo, bruxaria não existe! Tenho dois tios e uma prima que morreram dessa mesma doença!...”