sexta-feira, 25 de setembro de 2015

3929) Otacílio Batista Patriota (26.9.2015)




Acontece hoje em João Pessoa o “XIII Tributo a Otacílio Batista – a Poesia Vive.” Será no Sindicato dos Bancários, às 20 horas, com a presença de poetas e artistas e admiradores da poesia e da grande figura que foi o mestre Otacílio. Será lançado o CD Nas Asas do Uirapuru – Sílvia Patriota canta Otacílio Batista. Eu tentarei me fazer presente com o que vem a seguir.

Um poeta não tem obrigação de ter um nome metrificado. O registro civil vem muito antes de ele se definir como poeta. Acontece às vezes, porém, que os pais são amantes da poesia, e sabem o valor de um verso bom. O nome do poeta já nasce cantando, ele vê a si mesmo entoando uma melopéia, cadenciando as sílabas: “Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac”. É um verso alexandrino de doze sílabas, a fórmula mágica do Parnasianismo, do Simbolismo. O verso que um dia faria Bilac famoso.

Do mesmo modo, há poetas na cantoria de viola que têm seu nome na cadência inconfundível no martelo – como é o caso de Otacílio Batista Patriota. Seu nome é um verso de martelo, o decassílabo com acento forte na terceira, sexta e décima. Lembro de ler pela primeira vez esse nome justamente como um verso de martelo, fechando com chave de ouro a estrofe famosa de José Nunes Filho, que encontrei nas páginas de F. Coutinho Filho:

“Eu conheço José Alves Sobrinho / Pedra Azul, João Severo e Maranhão; / escrevendo poesia tem Cancão, / um nativo da terra de Marinho. /  Zé Soares, Catota, Canhotinho / Louro e Pinto, que nesses ninguém bota; / tem José Bernardino em minha nota / tem Amaro, Dalvino e outros seres, / Generino Francisco dos Prazeres, / Otacílio Batista Patriota.”

Desses, fui amigo de José Alves, de Louro e de Otacílio. Viajamos juntos, fui a muitas cantorias dele, de pé de parede, na Paraíba e em Pernambuco. Acompanhei-o em festivais e congressos. Ria com seus versos irreverentes. Admirava sua voz clara, precisa, de sílabas bem marcadas, dicção impecável. Uma vez, numa praça numa capital brasileira, após a noitada de repentes, vi Otacílio atrás do palco, cercado por uma multidão de fãs querendo comprar os folhetos e os livros. Entre tantos abraços e fotografias, ele parecia um Carlos Gardel, elegante, sorridente, atarefado, atendendo a todos.

Sempre fui perguntador, e Otacílio era mais receptivo do que outros. Louro, por exemplo, muitas vezes levava tudo na piada, mas Otacílio, ao ser indagado, fazia uma longa e articulada explanação, dizendo exatamente a informação que a gente precisava, fosse de métrica, rima ou oração. Sempre bem vestido, distinto, com uma piada maliciosa na ponta da língua, e um improviso veloz mudando a direção de um verso.