terça-feira, 30 de dezembro de 2014

3697) Mais adeuses do ano (30.12.2014)



Moacy Cirne foi um dos nossos grandes estudiosos das Histórias em Quadrinhos, e ajudou a dar respeitabilidade ao gênero no meio acadêmico. Cinéfilo, foi também o criador, na UFF de Niterói, do primeiro curso acadêmico de ficção científica em nossa universidade. Foi um dos meus vizinhos nordestinos no Flamengo, primeiro, e depois em Laranjeiras. Redigia uma folha-volante “jomardiana”, o Balaio Incomum, que distribuía com os alunos, cheia de poemas, provocações políticas, versos fesceninos do lendário Chico Doido de Caicó. Vou rever A Aventura de Antonioni, seu filme favorito, e pensar para onde vão as pessoas que não vemos mais.

No Curso Clássico, no turno da noite no Estadual da Prata em 1969, um dos colegas mais bem-falantes da turma era um “cabôco” moreno, magro, de testa enorme, sorriso confiante e voz metálica. Anos depois, quando me aproximei dos cantadores que frequentavam o Bar de Seu Manu, lá estava ele, agora com uma viola do lado.  Apolônio Cardoso formou-se em Direito, mas para mim foi sempre o poeta. Voltamos a nos cruzar na redação do Diário da Borborema, onde ele tinha uma coluna periódica sobre cultura popular.  Faleceu nas vésperas do Natal; eu não o via há anos. Em alguma caixa de fitas cassete em minha casa, a voz metálica ainda canta sextilhas.

Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos o mundo parava para a gente ouvir a radionovela As Aventuras do Flama. Eu e minha irmã Clotilde colecionávamos rótulos do Drops Dulcora (“quadradinhos, embrulhadinhos um a um”) para entrarmos no clube do Agente Secreto. O Flama era uma espécie de Batman que combatia tanto gangsters quanto monstros-robôs, acompanhado por Zito, Eliana, o Raposa, o Comissário Lawrence, Bolão...  Era tudo criação de Deodato Borges, que também criou uma revista em quadrinhos com as aventuras dele. Deodato, tal como Péricles Leal (criador do Falcão Negro), foi um pioneiro paraibano de quadrinhos e de novelas num mundo de pulp fiction. As últimas imagens que vi dele foram desenhadas por seu filho Mike Deodato, retratista de heróis.

Como tantos craques do futebol paraibano, Zezinho Ibiapino brilhou tanto no Treze quanto no Campinense. Era um meio-campista atarracado, com um domínio de bola impressionante, especialista nas cobranças de falta com folha-seca e naqueles lançamentos de 40 ou 50 metros que geralmente associamos a Gérson ou Rivelino. Uma vez brigou com a diretoria do Campinense, foi a julgamento, meu pai foi o advogado dele e conseguiu absolvê-lo e trazê-lo para o Treze, onde ele acabou sendo campeão em 1966.  Onde quer que eu o encontrasse pelas ruas de Campina Grande, ele me cumprimentava: “Diz, fí de Nilo”.