sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

4037) Piadas científicas (30.1.2016)



A professora adverte um aluno: “Joãozinho, a sua redação ‘Meu cachorro’ está igual à do seu irmão mais velho.” O pirralho: “Claro, professora, o cachorro é o mesmo.”  (A lógica subjacente à piada é a mesma lógica dos economistas que aplicam uma fórmula e depois dizem que “o país é o mesmo”.)

Lucy, numa tirinha de “Peanuts”: “Só em problemas de matemática você pode comprar 60 melões e ninguém perguntar o que diabo há de errado com você.” (Provavelmente para Lucy a mentalidade humana, social, é mais vívida do que a mentalidade abstrata e operativa. Para ela tudo tem que ter significado humano. Se lesse livros policiais não leria S. S. Van Dine, leria Raymond Chandler.)

Dois irmãos preguiçosos estão deitados em redes, na sala da fazenda. Um deles pergunta: “Será que está chovendo?”. O outro diz: “Assobia chamando o cachorro, e vê se ele está molhado.” (A física subatômica faz isso. Na impossibilidade de presenciar certos eventos físicos, eles provocam os eventos, inserem neles um tipo de partícula que já conhecem, e depois examinam o que aconteceu com ela.)

Dois capiaus estão ao entardecer, mastigando talo de grama à beira de uma lagoa, quando um enorme dragão verde-azulado surge no ar e voa rumo sudoeste. Os dois ficam em silêncio, cada um pega outro talo de grama. Outro dragão surge, amarelo-alaranjado, cuspindo fogo, e voa como uma flecha rumo ao sudoeste. Um capiau diz: “Parece que o nim deles é pralá.” (O cientista pode estar interessado apenas na reiteração de tais ou tais fenômenos, mesmo que não tenha uma explicação sensata para eles.)

Essas piadas lembradas meio aleatoriamente são de fato científicas? Não foram pensadas assim, é claro. Toda piada é um pulo do gato, uma queda de asa, uma virada de mesa, uma dobrada de esquina a trezentos por hora, com segurança total. Ela é pensada em função da puxada-de-tapete final, a chamada punch line, que não tem necessariamente que provocar gargalhadas. Às vezes basta um “Ha!” de surpresa, mas dum tiro só, acusando o golpe. Piadas assim são exemplos de raciocínios abstratos dentro de uma situação fácil de entender, com uma lógica que parece absoluta até a virada final.

Um cara abriu uma barbearia no centro da cidade e botou; “A melhor barbearia do país.”  Um mês depois outro sujeito abriu outra, na mesma calçada, e anunciou: “A melhor barbearia do mundo”.  Com mais algumas semanas, um terceiro, metros adiante, inaugurou a sua, proclamando: “A melhor barbearia da rua”. (Na verdade, filosoficamente acho que ele criou um impasse, um loop moebius que volta sempre ao ponto de partida. Mas teatralmente quem ganhou o round foi ele.)