sexta-feira, 26 de setembro de 2014

3614) 5 mentiras (26.9.2014)





“Mãe, será possível, eu passei a tarde na casa da Priscila, es-tu-dan-do-pra-pro-va, se você não acredita pega aqui, vai, liga pra ela e pergunta!” (Daniela Martins, 18 anos, estudante, São Paulo, estendendo o celular para a mãe e cruzando metaforicamente os dedos na esperança de que seu blefe funcione e a mãe não ligue para a colega e não a force a gaguejar mentindo, não venha a desconfiar de que a filha foi pela terceira vez ao motel levada por Pedro Paulo, um homem casado e sem escrúpulos que mora no terceiro andar do prédio para onde as duas se mudaram juntas após o falecimento do pai).



“Eu preciso desse empréstimo, tenho uma ex-mulher que me arranca o derradeiro centavo, tudo que eu ganho tenho que dividir com aquela praga do Egito!” (Ladislau Werneck, 49 anos, Belém, para o gerente do Banco, tentando justificar, sem que ninguém lhe pedisse, o empréstimo que está em trâmites, sendo que a ex-mulher, coitada, apenas lhe pede uma graninha emprestada de vez em quando, e sempre paga, e o buraco financeiro na verdade é pra sustentar os luxos de Keyla Simone, 23 anos, dançarina, que faz Ladislau comer na sua mão e nas horas vagas gasta os tubos com roupa e academia).



“Pai, preciso daqueles 50 reais que falei pro senhor, o da taxa de material esportivo para os Jogos Colegiais, era pra ter levado na segunda-feira.” (Wilson Leite da Silva, 16 anos, estudante, Santa Maria do Paraná, na esperança de que o Pai, sempre resmungão e reticente, não descubra que metade do dinheiro é para comprar no sebo da cidade, que fica a 10km, livros que Wilson esconde no celeiro, porque se o pai descobrir queima tudo no querosene e diz “vai trabalhar, vagabundo!”).



“Não, doutor, nunca fiz aborto, deve haver algum engano...” (Marilene de Campos, 38 anos, Aracaju, morrendo de medo de confessar ao ginecologista seu erro de juventude, porque nunca se sabe, numa cidade pequena homens comentam coisas em mesa de bar e essas coisas acabam chegando aos ouvidos de Valdir, seu marido, o melhor homem do mundo, tão melhor que casou com ela e nunca percebeu que ela não era mais virgem).


“Falou que estava tudo bem, que era estresse, e que na minha idade eu preciso é de dieta e um pouco mais de exercício.” (Mário Guilherme Frota Santos, 57 anos, administrador de imóveis, Cachoeiro do Itapemirim, guardando os Raios-X e os resultados sombrios dos exames que tinha feito, disposto a tomar as providências necessárias, organizar as finanças, e depois aproveitar os meses de vida profetizados pelo médico, porque se por um lado não tinha jeito, também não era motivo para jogar todo mundo num desespero sem futuro).