domingo, 20 de outubro de 2013

3322) Na moral, véi (20.10.2013)





Na moral, véi, pra que essa zueira por grana. Grana serve pra quê, meu irmão? O jornal trata um caba rico como se ele fosse o filme do osca. Só falta deitar no chão e mandar passar por cima. Eu, hein. É rico hoje, fica pobre amanhã. E riqueza tira o sono. O caba tem medo de ser assaltado, tem medo do banco dele falir, tem medo até de comer uma dessas meninas das revista e depois ter que fazer deniá e pagar pensão. 

Dinheiro é mel que traz mosca. O caba vive num iate, beleza, iate de trinta milhão, beleza, aí o iate dá um tombo de banda, o cara cai por cima da paredinha, e lá embaixo tem um tubarão que tá esperando por ele desde Pedro Álvares Cabral. 

Eu não invejo dinheiro. Vivo por aqui passando bem, e pão com sardinha nunca fez mal a ninguém. E daí, o cara tem camarote no show da Madona? Eu escuto o show da Madona aqui no meu radin. E não preciso ver a Madona com as coxa de fora, minha mulher tem duas coxa igual a da Madona e dá menos trabalho do que ela. 

Eu, hein. O caba dá 2 mil reais numa garrafa de vinho e quando acabar o otário sou eu. O caba vive viajando de jatinho pra discutir contrato em Dubai e quando acabar o estressado sou eu. Agora pergunta quem é que tá assinando o ponto na patroa dele enquanto ele está em Dubai. Eu sou um lascado? Sou, sou um lascado, se lascado é quem não anda de bemidáblio e não deve ao imposto de renda. 

O sol nasceu pra todos, mas quem não quer bronzear não bronzeia. Eu não preciso de tudo que um rico precisa. Rico começa ambicioso, porque a conta do ter nunca enche, mas depois acaba necessitado, porque afunda o navio, o poço de petróleo seca, e lá vai ele pro comprimido. 

Me considere, rapaz. Quero lá ser rico. Rico quando fica velho pinta logo o cabelo com chá-mate. Rico é inseguro, é travado, é medroso. Se ele tossir de mau jeito a Bolsa de Valores perde o fechicler. Na moral, véi. Minha vida é pequena mas é minha. Não quero ser rico. Eu evito até jogar na Mega-Sena. 

Pobre pode ser um cara que precisa arrastar um trem a vida inteira, mas um rico é um cara que tem que correr a vida inteira porque o trem tá arrastando ele. 

Rico pensa que é dono do mundo, e não é dono nem dele mesmo. Tem casona e não mora nela, tem dinheiro e não tem tempo de gastar, come do bom e do melhor mas tá o tempo todo pensando no câmbio, no paraíso fiscal, no mercado futuro. 

Na moral, véi, eu olho um rico e vejo um robô, um zumbi, um cara-de-paletó sempre atrasado, sempre sorrindo, sempre nervoso, um cara com uma doença que faz ele precisar sempre do muito, do mais, porque no dia em que ele tiver só o suficiente ele dá um pipôco, dá um curto-circuito, e vira pó de peido.