quarta-feira, 9 de abril de 2014

3468) Hiper-Mistério (9.4.2014)



Suponhamos um romance policial em formato eletrônico. O livro total tem (digamos) 70 capítulos.  O leitor, ao "entrar no livro", clica e vê o começo de um capítulo, com título, sem número.  Ele lê.  No fim da página, um link, escrito: “Próximo”. Ele clica (ou encosta o dedo, ou pisca o olho, sei lá como vai estar isso daqui a uns anos). O clique nesse link escolhe (aleatoriamente) o capítulo seguinte. Cada capítulo acessado pelo leitor vai sendo arquivado, de modo que ele possa a qualquer momento rever a lista dos capítulos que lá leu. E reler, se quiser. (Depois de lidos, ficam como que grudados uns aos outros: é impossível voltar atrás e modificar o passado).

Acontece que a história básica, a trama central da história, é contada em 15 capítulos, que (sem que o leitor saiba) estão numerados em sequência. Nestes capítulos de “1” a “15”, estará a história a ser contada.  Eles estão linkados entre si de tal forma que o 2 só pode ser acessado depois que o 1 foi lido; o 3 depende igualmente do 2, e assim até o final.

Os 55 capítulos restantes serão "capítulos prescindíveis", como os de “Rayuela” de Cortázar.  Todos terão alguma informação extra, de caracterização, ambientação, revelando detalhes dos personagens, etc., sem mexer no enredo em si.  O processo de salto para o próximo capítulo tem embutido um “lance de dados” para que cada leitor, depois de ler o cap. 1, possa ler outros aleatórios antes de ler o 2.  Todos lerão os capítulos de 1 a 15 nessa ordem – mas entremeados com capítulos intermediários, sorteados pelo processador.

Após a leitura do 1, que será o mesmo para todos os leitores, poderá ser sorteado qualquer um, menos os de 3 a 15 (da história básica, que só poderão ser lidos depois de ser lido o 2). Digamos que saia o 44.  No clique seguinte, voltam a ser possíveis todos, menos o 1, o 44 e os de 3 a 15.  No terceiro clique, sai o 18.  No próximo, portanto, serão possíveis todos os números, menos 1, 44, 18 (já lidos) e os de 3 a 15.  Portanto, esse leitor lerá o livro assim, p. ex.: 1 – 44 – 18 – 29 – 2 – 45 – 16 – 3... Outro lerá talvez: 1 – 23 – 65 – 43 – 2 – 38 – 3 – 57 – 19 – 4...  E assim por diante.

Se os capítulos “do enredo”, de 1 a 15, demorarem a sair nos primeiros cliques, irão se acumulando para o final; ao surgirem bem próximos um do outro darão a sensação de que a narrativa se acelera. Se, ao contrário, forem sorteados com frequência na fase inicial da leitura, parecerá que a história começou acelerada e a partir de um certo ponto o "autor" começou a divagar.  Seria legal imaginar que tipos de história poderiam render melhor, submetidos a uma estrutura assim.