domingo, 15 de abril de 2012

2845) Evolução dos games (15.4.3012)



(The Elder Scrolls V: Skyrim)

Quando Thomas Edison inventou o fonógrafo, não pensou que aquilo serviria futuramente para vender canções para bilhões de pessoas. Achava que a máquina ajudaria no estudo de línguas estrangeiras. Quando os irmãos Lumière inventaram o cinema, acharam que era uma “invenção sem futuro”, e foi preciso o gênio de Georges Méliès (homenageado agora com o belo filme A invenção de Hugo Cabret) para descobrir o potencial de narração e de fantasia daquelas imagens em movimento. Alguma coisa parecida (numa escala diferente, e de mistura com outras variáveis) está ocorrendo com os videogames nestas décadas iniciais de seu desenvolvimento. O avanço técnico dos gráficos e da jogabilidade está sendo muito mais rápido do que o dos aspectos (digamos) dramatúrgicos e literários.

No seu livro Extra Lives (2010), Tom Bissell afirma: “Games são produtos de entretenimento corporativo, criados por dúzias de pessoas, com uma grande expectativa de ganhar dinheiro. Eles têm mais inteligência formal ou estilística do que são capazes de utilizar; e não têm nem um traço de inteligência temática, emocional ou moral”. O julgamento é duro, mas como é feito por um sujeito que se confessa viciado em games, talvez não seja preconceituoso. Bissel justifica esse desenvolvimento defeituoso com uma razão principal: “Um número desproporcional de designers de games hoje em atividade vem de um background de sistemas, programação ou engenharia, o que contribuiu para formar suas personalidades e interesses. Uma consequência disto é que os designers imaginam os games de dentro para fora: Que variável posso inserir no sistema para produzir um efeito interessante?”.

Ou seja: os games não foram inventados por artistas, mas por técnicos. Quem os criou estava tentando reproduzir o movimento de corpos num espaço tridimensional através de pontos luminosos. Eu sou dos primórdios dos games de computador (raramente joguei games de console, tipo PlayStation ou Xbox). No tempo dos computadores pré-Windows, usei joguinhos em que os personagens eram representados por letras maiúsculas, os muros da prisão eram uma série de XXXX maiúsculos, a jóia que eles procuravam roubar era um asterisco, e assim por diante, tudo isso em letras verdes sobre fundo preto. Ou seja, “mó toskera”, como diriam os jovens de hoje. Desse mundo para o de Mass Effect 3, vai uma distância que foi coberta em vinte anos. Diz Bissell: “A indústria dos games, que começou com uma cultura de engenheiros, transformou-se num negócio, e agora, como um milionário talentoso que se volta para a poesia, está cheia de aspirações confiantes, mas inseguras, de se transformar numa arte”.