sexta-feira, 17 de julho de 2015

3869) Viagens espaciais (18.7.2015)




Jorge Luís Borges ironizava a expressão “viagens espaciais”, dizendo que toda viagem, mesmo para o subúrbio, é uma viagem espacial, pois acontece no espaço. Era o mesmo (dizia ele) que dizer “substâncias químicas”. Nossas viagens espaciais dependem, em grandíssima parte, não apenas dos veículos e dos combustíveis de que dispomos, como também do modo como entendemos o espaço, como avaliamos o espaço que se estende à nossa volta.



Em Orlando, na Flórida, foi divulgada a foto aérea de duas residências que estão em espaços contíguos e ao mesmo tempo estão a cerca de dez quilômetros de distância. As casas estão fundo-a-fundo, viradas para ruas diferentes. Uma pessoa de uma delas pode ir para seu quintal ou pátio traseiro e passar para o quintal da outra casa. Mas se ela quiser ir visitar esses vizinhos de carro vai ter que sair pela rua da frente, e, seguindo a mão e obedecendo aos cruzamentos, terá que dar uma volta de dez quilômetros, a menor distância possível a ser percorrida de carro.



O espaço é um só, do ponto de vista físico, mas os nossos deslocamentos não estão sujeitos apenas ao lado físico, eles têm que passar pelo filtro de como organizamos nossas maneiras de percorrer esse espaço. Razões de urbanismo, engenharia de trânsito, etc., fazem com que os carros precisem se deslocar em canais de espaço muito específicos. Além dos obstáculos físicos, como os prédios, ele encontra obstáculos conceituais, como uma rua em contra-mão ou um gramado.



O exemplo dessas casas em Orlando é uma possível metáfora do que a ciência e a FC chamam de “buracos de minhoca” ou “wormholes”.  São atalhos no espaço onde é possível passar através de pontos específicos, evitando a volta de dez quilômetros e chegando direto à casa vizinha. Podemos também pegar uma folha de papel, fazemos duas marcas, distantes uma da outra, e depois dobramos o papel, colocando as duas marcas em contato. Com isso, encurtamos a distância ao amassar o papel, mas para isso precisamos de uma dimensão extra. (Supõe-se que a folha é uma superfície sem espessura, apenas bidimensional).


Para efeito de criação de histórias, pode-se lançar a hipótese de que um “wormhole” só pode ser acessado por “pedestres”, não por “carros”. Ou seja, fazer passar por ele a massa de uma espaçonave exigiria uma quantidade inconcebível de energia, mas uma pessoa vestida de traje espacial ou num “esquife espacial” exigiria uma minúscula fração disso. Bastaria ter uma estação espacial construída nas vizinhanças e ficar mandando os viajantes quando necessário.  Os deslocamentos de espaçonaves pela galáxia são comparáveis à volta de 10 km de quem viaja de carro.