domingo, 24 de julho de 2022

4846) "Na Torre da Lua Cheia" (24.7.2022)

 

Um editor meu já disse, com afabilidade, que eu sou um grande sabotador dos meus próprios livros, porque não me entusiasmo muito para divulgá-los. Não é verdade. Eu faço o que posso, tanto no cara-a-cara quanto nas redes sociais. Essa avaliação dele se deve à sua ansiedade, porque tinha expectativa de vender 40 mil exemplares do meu livro e agora segurava nas mãos uma planilha indicando cerca de 350.
 
Na verdade eu divulgo, mas não divulgo diariamente, como deveria fazer para me fazer ouvir no meio da inevitável balbúrdia. Todo dia tem gente lançando disco, montando peça, autografando livro, compartilhando podcast, estreando filme, abrindo vernissage. Divulgar é um trabalho de Sísifo.
 
Repórter de TV:
– Sísifo, fala pra gente como é essa emoção de todo dia conseguir enviar uma pedra para o vale. Como explicar tanto sucesso?... 
 
A revista pernambucana Continente Multicultural lançou, neste número do mês de julho, um encarte com um poema meu ilustrado por Cavani Rosas, Na Torre da Lua Cheia. Acho que a esta altura todo mundo no Brasil conhece essa excelente revista, na qual já colaborei várias vezes, e onde já fui entrevistado. Pode ser adquirida diretamente no saite, em várias bancas e livrarias nas Capitais; aqui no Rio de Janeiro, onde moro, vende nas livrarias Blooks e Travessa.
 
Na Torre da Lua Cheia
eu estava adormecido
quando acordei de repente
talvez ouvindo um ruído.
Levantei da minha enxerga
fui tateando a parede
até achar a janela
no meio da escuridão;
localizei o ferrolho
puxei pra cima com força
e a janela abriu-se toda
para a noite do Sertão.
 
Na Torre da Lua Cheia provavelmente vai ser referido como “um romance de cordel”, o que dá uma idéia, mas não uma idéia exata. Eu não acho que toda história em versos é “um cordel”. O cordel (o Romanceiro Popular Nordestino) tem formatos consagrados, tradicionais, que devem ser respeitados justamente por serem tradicionais. Foram cristalizados pela prática secular de milhares de poetas e milhões de leitores. Não foi um colegiado de teóricos que baixou uma lei dizendo “Tem Que Ser Assim”.
 
É um romance no sentido cordelesco do termo – uma história fantasiosa contada em versos. No caso, numa estrofe que não se usa no cordel (estrofe de 12 sílabas), e usando rimas toantes (que o cordel tradicional não admite).
 

Algum tempo atrás, comentei aqui neste blog o quanto é rara a Poesia Fantástica em nossa literatura. É possível achar numerosos exemplos do Fantástico em verso no Brasil, é possível até montar uma boa antologia, mas mesmo assim ninguém pode dizer que há aqui uma corrente contínua de poemas fantásticos dialogando e influenciando-se ao longo dos séculos. É como se cada autor começasse do zero.
 
A exceção, como sempre, é o cordel – que no seu sistema tradicional de sextilhas e décimas, e rimas consoantes, tem um impressionante repertório de histórias fantásticas, mesmo que aparentemente diluídas na tradição “folclórica” e anônima.

Na Torre da Lua Cheia tem algo de ficção científica, e é um poema que dormia na gaveta há muitos anos quando, numa conversa minha com Cavani Rosas, ele perguntou: “Você não tem nenhum texto falando de monstros, de assombrações?...”
 
Tinha, sim, tinha estas visagens adormecidas. Repassei uma cópia dos versos e ele passou pelo menos uns quatro ou cinco anos produzindo bem devagar – nos intervalos do seu trabalho costumeiro – as ilustrações que transformaram o poema em projeto de livro, em obra publicável. Coube a seu filho Edson Rosas dar o visual definitivo à obra.


Que sai agora, encartada num exemplar muito interessante da Continente, dedicado à música brega e à música soul. Para mostrar (talvez) que tudo coexiste, que tudo respira o mesmo ar e bebe a mesma água.
 
Uma pergunta que alguém pode vir a fazer: por que não publicar em forma de cordel tradicional? A resposta mais óbvia é que as ilustrações foram feitas em tamanho grande e precisam de um mínimo de espaço para serem reproduzidas à altura. Cavani desenha geralmente em nanquim e bico-de-pena, naquele pontilhado minúsculo de quarks escuros que se aglomeram sugerindo matéria, relevo, sombreados.
 
Para ficar à altura dessas minúcias, a primeira idéia, depois de descartado o cordel, foi fazer um álbum mais chique, tamanho revista, papel cuchê ou algum outro de ótima qualidade de reprodução, talvez até capa dura. Uma publicação semelhante às graphic novels que tanto eu quanto ele gostamos de ler.
 
Esse formato não está descartado, mas pode ficar para depois, porque vai ser um item de produção mais cara. Ficamos deliberando – e somos dois procrastinadores compulsivos, deliberar essas coisas leva anos – e nesse ínterim surgiu a idéia, lá no Recife, de fazer um formato intermediário – tamanho graphic novel, mas num papel mediano, e a edição seria encartada na Continente.
 
A revista da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco) tem uma ótima circulação, é lida em muitos Estados, vende em banca e em livraria (inclusive Blooks, Martins Fontes, Travessa...), tem muitos assinantes... Encartar nosso “folheto” numa edição da revista seria um modo de fazê-lo chegar a leitores que normalmente jamais tomariam conhecimento de uma produção independente.
 
E assim... vualá!  Eis o nosso narrador da Torre alçando seu voo e contemplando lá de cima o Brasil do segundo semestre de 2022, Brasil que entrará para a História. Depois não digam que nós não avisamos.



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