terça-feira, 17 de abril de 2012

2846) Bob Dylan no Rio (17.4.2012)



(Dylan em Copacabana. Foto: Nana Tucci)

Não fui ver Dylan no Citibank Hall. É a quinta vez que ele canta na cidade, e vi todas as outras quatro. Pra que ver mais? Dylan é uma espécie de Ronaldinho Gaúcho: a gente não vai assistir pensando no que ele pode fazer, mas para agradecer o que ele já fez. Isso não impede nenhum dos dois de eventualmente produzir algo genial. Os monstros sagrados nunca morrem de todo. Quando menos se espera, as cinzas começam a se juntar sem que nenhum vento esteja soprando.

Dylan cantou no Rio pela primeira vez em janeiro de 1990, na Apoteose. Abriu o show com “Subterranean Homesick Blues”. Eu estava no gargarejo, e o cara que ajeitou o pedestal do microfone dele era mais alto do que eu. Dylan tem 1,65m. Cantou a primeira estrofe inteira de guitarra em punho, para um microfone apontado para sua testa (no fim da estrofe, ajeitou rapidinho). O show foi uma mistura de gente emocionada e gente reclamando. No meio de “Hattie Carroll” estourou uma briga perto de onde eu estava, ele cantou a música inteira olhando para os brigões.

Em agosto de 91, ele cantou no extinto Imperator, no Méier. Um show fechado, acolhedor. A certa altura faltou energia na casa inteira. O baterista fez um longo improviso acompanhado com palmas pela platéia. Em 1998, ele abriu o show dos Rolling Stones, novamente na Apoteose. “Apoteose” é um eufemismo para a cena em que, no show da banda principal, ele voltou ao palco para cantar “Like a Rolling Stone”. Na turma que foi a este show estava minha filha Maria, então com 20 anos. O quarto show de Dylan aqui foi na Arena Multiuso, em março de 2008 (ver: http://bit.ly/HL8N0L). Fui com meu filho Gabriel, então com quase 16 anos. Dylan abriu o show com “Rainy Day Women # 12 e 35”, levantando a platéia, cantou razoavelmente bem algumas músicas, o tempo todo em pé, num tecladinho.

Por que não fui agora, além do preço? Não sei. Ano passado vi Milo Manara aqui no Rio, autografando quadrinhos. Vinte anos atrás eu passaria uma madrugada sob a chuva para pegar um autógrafo dele. Desta vez, esnobei. Não, não esnobei ele, nem Dylan, nem qualquer outro. Esnobei a necessidade de guardar uma prova palpável de que por alguns minutos compartilhamos as mesmas coordenadas espaçotemporais. Dizem que com a idade a gente vai ficando mais indiferente às pequenas coisas; já ouvi alguém dizer que velho não guarda lembrancinhas porque não vai ter muito tempo para lembrar. Eu diria que a idade torna meio irrelevantes esses rituais. O mundo é dos jovens. Pessoas como eu e Dylan estamos por aqui curtindo a música da festa, a inebriação do vinho; mas na verdade já estamos na calçada, esperando o táxi.