terça-feira, 7 de dezembro de 2010

2420) Flu: campeão por exclusão (7.12.2010)



E assim chegamos ao final de mais um Campeonato Brasileiro meia-bomba, decidido sem emoção em jogos onde os candidatos ao título enfrentavam times desmotivados ou rebaixados. Assim como ocorreu ano passado com meu Flamengo, o Fluminense foi campeão por exclusão. No confronto dos pouco competentes, foi o que errou menos, o que tropeçou menos, e, assim como o Flamengo, nem pode dizer que conquistou um título, mas que o título perdido por todos acabou caindo no seu colo. Que aproveite. (O Flamengo é um exemplo de como não aproveitar.)

Durante muitos anos sonhei, eu, fã do futebol, com um Campeonato Brasileiro disputado em pontos corridos, acreditando que fosse esta a fórmula mais adequada para premiar o melhor time. Hoje tenho minhas dúvidas, não quanto à eficácia da fórmula para escolher o vencedor (premia-se o time mais regular e mais consistente, o que não são critérios de se jogar fora), mas quanto ao resultado disto para o espetáculo.

Há muitos jornalistas que torcem o nariz para o presente modelo, e acho que estou começando a torcer o meu também. No ano passado vi um Flamengo travado e sem convicção ser campeão diante de um Grêmio que claramente não queria beneficiar seu rival, o Inter. Este ano vi um Fluminense travado e nervoso ser campeão diante de um Guarani tecnicamente fraco, psicologicamente entregue. Jogos chochos, sem técnica, sem emoção. Tive saudade daquelas decisões de alguns anos atrás em que só dois times podiam ser campeões: os dois que entravam em campo para se enfrentar, “com a faca nos dentes” e na ponta dos cascos.

Não digo isto para menosprezar o título tricolor. Foi merecido pela campanha sólida, mesmo com repetidos escorregões e tropeços em jogos bobos, que só não lhe custaram a Taça porque os adversários fizeram exatamente a mesma coisa. Foi merecido, por exemplo, por Conca, um jogador que não é nenhum Maradona mas é um exemplo de jogador que eu gostaria de ter no meu time, tanto pela técnica quanto pelo caráter (ou pelo menos o que percebemos dele pelas suas atitudes).

O título do Flu carimbou um valor simbólico especial para o técnico Muricy. Como os torcedores se lembram, logo quando Dunga foi demitido da Seleção após o fracasso na Copa a CBF convidou Muricy para ser o técnico, e ele aceitou. Isto foi às 10 da manhã. Ao meio-dia, Muricy informou a CBF de que o Fluminense não o liberava, e que ele, como tinha contrato assinado, tinha que manter a palavra e obedecer à ordem do Fluminense para que ficasse.

Muitos técnicos guardariam um gosto de azinhavre na boca e, mais adiante, iriam tirar o pé do acelerador, numa vingança quase inconsciente contra a diretoria que cancelou seu maior sonho profissional. Muricy trabalhou como um mouro e deu a Taça ao clube que o prejudicou. Isto deve significar alguma coisa, num futebol tão egoísta quanto o nosso. Não acho Muricy o sujeito mais simpático do mundo, mas é a ele (não à diretoria do Flu) que dou meus parabéns.