quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

3102) Dicas de W. G. Sebald (6.2.2013)




W. G. Sebald, escritor alemão falecido em 2001 (autor de Austerlitz, Vertigo e outras obras) é um desses escritores de que ouço falar e que anoto mentalmente para “ler um dia”. Encontrei um blog feito por alunos seus, com recomendações literárias muito sagazes. Sebald parece ser um desses ficionistas clássicos, da velha escola, embora a crítica costume apontar, nos seus livros, uma mistura entre literatura e jornalismo, ficção e fato.

Ele diz, por exemplo: 

"Detalhes significantes dão vida a situações que de outro modo seriam rotineiras. Excentricidades são interessantes. Personagens precisam de detalhes para ancorá-los na memória do leitor”. 

Eu concordo com isso, mas como todo tempero de sabor forte, tem que ser usado com muita precisão, e com a consciência de que muita gente não gosta daquele tempero específico. Não gosto de ambientes indiferenciados, personagens banais, diálogos previsíveis. Literatura tem que ter a presença de algo estranho, que destoa criativamente. 

O truque de usar o detalhe para diferenciar os personagens pode ser exemplificado, para o bem e para o mal, com a ficção de Isaac Asimov. Muitas vezes ele mostra uma discussão entre três cientistas, numa sala, tentando resolver urgentemente um problema científico ou bélico. Asimov diferencia os personagens dizendo que o primeiro cientista é careca, fuma e anda o tempo todo; o segundo está sentado numa poltrona e bebe café; o terceiro é jovem, está sentado num balcão e limpa os óculos de vez em quando. 

Com esses detalhes superficiais ele considera cumprida sua missão de indicar quem é quem, o que é aceitável. 

O problema é que, daí em diante, mesmo que os personagens tenham opiniões antagônicas e estejam envolvidos numa queda de braço para ver quem prevalece, o diálogo é feito exatamente nos mesmos termos. Esses personagens que superficialmente se distinguem por detalhes bem específicos falam num mesmo ritmo, usam as mesmas expressões, argumentam tudo do mesmo modo – o modo de Asimov.  São meros locutores para as opiniões do autor; por mais detalhes curiosos que tenham “pendurados” em si, não se distinguem muito uns dos outros.

Como, então, usar esses detalhes de uma maneira que pareça natural, pareça integrada ao ambiente da ficção? Não existem fórmulas. E mesmo que existam, fórmulas são como receitas culinárias: não é só usar os ingredientes certos, é preciso desenvolver a intuição, pela prática intensa. 

Dicas de escritores da série “A” têm um pouco de segredo dito às claras, sem explicar como fazer. “Alimente-se bem... Corra 20 km por dia... Cumpra todos os compromissos que anotou na agenda... Pague todas as contas...”