quarta-feira, 20 de novembro de 2013

3348) Crimes da ciência (20.11.2013)





(Ming)



A Ciência é admirável e terrível. Algo como um espetáculo que nos atrai, do qual não conseguimos afastar os olhos, mas se chegarmos muito perto corremos o risco de ser destruídos. 

Ela se baseia na busca de fatos e de constantes (as chamadas “leis da natureza”) objetivas, que existem no mundo. “Objetivos” quer dizer coisas que existem fora da nossa consciência, algo que não depende de nossa consciência para existir. 

Como dizia Philip K. Dick, "realidade" são todas as coisas que não desaparecem quando a gente deixa de acreditar na existência delas.

Nessa busca do que é objetivo, do que é coletivo, geral, universal, as ciências precisam muitas vezes considerar secundário todo indivíduo, todo caso isolado, toda pessoa. 

O que buscam, em princípio (tenhamos sempre cuidado com as generalizações – cada ciência tem métodos e objetivos diferentes), é o que há em comum entre todos os indivíduos. Nessa busca de constantes universais, os indivíduos às vezes saem perdendo.

Foi o caso que a imprensa noticiou assim: “Cientistas Matam Acidentalmente o Animal Mais Velho do Mundo”

Era um molusco oceânico descoberto perto da Islândia em 2006. Os cientistas calculam a idade deles contando os anéis em sua concha, por dentro e por fora. A avaliação era de que o molusco tinha 507 anos quando foi descoberto, mas a contagem era imprecisa. Para chegar ao número certo, seria preciso abrir a concha e olhar dentro. 

Foi o que eles fizeram, certamente tomando o máximo de cuidado. Nem sempre o máximo é o bastante, e durante o processo o bicho morreu. 

O que lembra aquela piada, em que o doente diz: “Doutor, o que é que eu tenho?”, e o médico: “Fique tranquilo, saberemos na autópsia”.

Temos o direito de sacrificar um ser vivo só para saber com “certeza científica” a idade que ele tem? Os cientistas provavelmente não teriam feito o que fizeram se tivessem certeza de que isso mataria Ming (até nome o molusco recebeu!). 

Não é o mesmo caso daquele lenhador norte-americano que meteu a motosserra numa árvore (há poucos anos) para ver que idade tinha, e descobriu que era A Árvore Mais Velha do Mundo. Neste caso, os anéis internos do tronco não poderiam ser cortados sem matar a árvore; no do molusco, acho que os cientistas tinham alguma chance de poupar o espécime.

É, amigos, a vida é frágil. Como disse G. K. Chesterton em Orthodoxy

“Dê uma pancada num vidro, e ele não durará um instante; deixe-o em paz, e ele vai durar mil anos. (...) A felicidade depende de não fazermos algo que podemos fazer a qualquer instante, e que, muitas vezes, não é muito claro para nós que não devemos fazê-lo.” 

Quando sabemos, é tarde demais.