quinta-feira, 7 de maio de 2015

3808) O polvo (8.5.2015)



(foto: Sebastian Niedlich)

Um fato insólito ocorreu mês passado no Laboratório de Biologia Marinha da cidade de Devon, na Inglaterra. Uma assistente do laboratório, Diana Rubin, 28 anos, estranhou o fato de que, ao abrir a porta às 6 da manhã (ela era geralmente a primeira a chegar, para controlar os índices de um dos trabalhos que estava pesquisando) encontrou o chão molhado e percebeu a ausência de peixes ou crustáceos de um dos vários tanques de espécimens que ficavam numa extremidade do salão. As escrivaninhas, o material de escrita, os arquivos, tudo o mais estava intacto. Quando o fato se repetiu, câmeras de segurança foram instaladas, enquadrando inclusive as portas e janelas. A luz foi deixada acesa. Certo dia, checando as imagens ao chegar, Diana teve um susto.

Numa das laterais do laboratório havia um grande tanque, com um polvo dentro. O tanque era fechado por uma tampa circular metálica, de rosca. Mesmo à distância, foi possível perceber que a certa hora da madrugada, o polvo se aproximou da tampa, por dentro, aplicou as ventosas dos tentáculos à superfície interna da tampa, desenroscou-a, continuou a segurá-la com um tentáculo e esgueirou-se pela abertura de uns trinta centímetros de diâmetro, forçando para fora seu corpo esponjoso, borrachudo, cheio de cartilagens. Deslizou para o chão, deixando um rastro molhado, foi até um tanque aberto, recolheu alguns peixes, trouxe-os consigo, escalou o tanque, voltou para dentro dágua, voltou a enroscar a tampa pelo lado de dentro e fez sua refeição. Tudo não durou mais que dois ou três minutos.

Diana Rubin pediu providências. A direção do laboratório a ignorou. (Ela era uma bolsista recém-chegada do interior, não tinha amigos influentes.) Os colegas a quem denunciou o fato riram-se dela, recusaram-se a ver as gravações. Durante dois dias, Diana falou com meia dúzia de cientistas, e o único que concordou em ver as imagens disse que eram de má qualidade, que aquilo só seria aceitável se fosse filmado de perto, com uma câmara digital de boa definição. Brincando, sugeriu que se ela provasse o que dizia conseguiria uma promoção e um aumento.

Na manhã seguinte, pesquisadores chegaram ao laboratório e viram o corpo de Diana Rubin caído no chão, tendo ao lado uma câmara espatifada. Seu pescoço estava partido, cheio de marcas roxas. Poças de água no chão. O polvo estava em seu tanque, parecia adormecido. Ao lado do cadáver, via-se uma caneta e um bloco de anotações, todo molhado, onde era possível ler em garranchos:  “mim matei”, em letras de imprensa trêmulas, que pareciam de criança, pareciam de alguém que está começando a se auto-alfabetizar.