sábado, 26 de março de 2016

4086) Gifmakers (27.3.2016)





A Internet e as redes sociais parecem, tanto em tempo de calmaria quanto de tempestade, uma agência de publicidade em momento de entressafra. Aquela sala tranquila, cheia de gente semidesocupada com o rabo do olho nas telinhas, esperando um assunto, um tema, uma deixa. Quando aparece, caem todos sobre aquilo como abutres famintos sobre um búfalo em decomposição. Não, esta metáfora é meio negativa. Digamos que os “meme makers” caem sobre um bom factóide como uma dupla de repentistas cai em cima de um mote bom. Um grupo de cartunistas, de piadistas stand-up, etc. 

Uma bobagem viraliza, independente de ser ou não bobagem. O que a viraliza é uma mecânica muito rápida que faz centenas ou milhares de palpiteiros visuais responderem, cada qual com sua respectiva panchlaine, cada um com seu aprouche. Aí começa a pipocar o comentário do comentário, e o comentário do comentário do comentário. Uma deixa é postada num mural de altíssima visibilidade às 9 da manhã de Londres, e às nove da noite em São Paulo o mundo já foi percorrido por ondas sucessivas de flashes, réplicas, tréplicas, inversões, metacomentários, recontextualizações, releituras, paródias.

Um gif é um cartum móvel. Uma coisa já corriqueira neste inesgotável Facebook em que eu (pelo menos) passo o dia enfiado, mas quem sabe um dia veremos gifs animados substituindo as fotos nos jornais de papel. Não me falem de anacronismo. Jornal de papel é como copo dágua, nada o substitui. Nada no cânone da FC nos impede de imaginar um mundo onde jornais de papel possam funcionar. Os “Vitorianos” futuristas de Neal Stephenson em The Diamond Age (1995) folheiam jornais, estudam em livros. Diferentes, claro. A tecnologia já existe, e até o nome (“smart paper”, no sentido em que dizemos “edifício inteligente”). Um certo fetiche da corporeidade sempre permanece, e teremos papel capaz de suportar pixels eletrônicos produzindo ilusão de movimento.

Gifs animados substituirão as fotos coloridas das revistas e jornais. Incrustaremos em nossos textos jornalísticos essas pequenas bolhas de espaço e de tempo, esses micro-momentos preservados num loop infindável. Na capa da revista o político estará sério mas em alguns segundos abrirá um sorriso paternal de Grande Irmão. A atriz linda estará meio de perfil em outra capa, mas quando tocarmos no papel o gif será ativado e ela voltará o rosto e os olhos para nós. Na revista de futebol o gol de placa estará rodando sem parar. Na revista de notícias reveremos em cada página a explosão do atentado, a queda do Boeing num desabrochar de chamas, o beijo dos noivos célebres, todas essas pequenas mortes que nos dão ilusão de eternidade.