sábado, 4 de maio de 2013

3177) Mundo sem gente (4.5.2013)




Diretores de filmes B interessados em fazer filmes pós-apocalípticos não precisam gastar um só dólar mandando construir cenários de papelão. O mundo está cheio de fábricas abandonadas, conjuntos residenciais virgens de inquilinos e já tomados pelo matagal, cidades fantasmas, hotéis de luxo hoje habitados somente por calangos e cascavéis. 

São muitas as causas. A grana-que-ergue-e-destrói-coisas-belas não para de conceber projetos novos, iniciá-los, e deixá-los pela metade. Reviravoltas econômicas levam uma região à falência e à desabitação, esvaziando cidades inteiras. A guerra, as epidemias, acidentes radioativos ou catástrofes naturais despovoam áreas enormes e deixam expostos à chuva e ao vento edifícios que já foram monumentais, deslumbrantes, repletos de pessoas.

The Atlantic (http://bit.ly/yyR5oJ) reúne fotos assim na página “A World without People”. 

Estátuas de Confúcio e de Lênin estão abandonadas no meio das ruínas. Em Fukushima, onde houve o acidente nuclear do Japão, a hera das casas invade pacificamente o asfalto onde não passa mais ninguém. Perto de Chernobyl, um parque de diversões abandonado onde as árvores estão prestes a cobrir a roda-gigante. 

Gansos e dinossauros de fibra de vidro parecem imagens surrealistas jogados no lixo de um parque temático em Berlim. Instalações construídas em Atenas para as Olimpíadas de 2004 estão sendo corroídas pela ferrugem e pela umidade, sem uso. Perto do aeroporto da Líbia, a estranha imagem de uma escada de avião abandonada no meio da rodovia.

Assim como em nosso corpo as células nascem, morrem e se substituem sem parar, o mundo avança às custas de uma destruição e criação constante. Marx falou certa vez que “a podridão é o laboratório da vida”, provavelmente querendo dizer que nas crises econômicas e sociais nem tudo se perde. Riquezas, forças, energias, tudo é canalizado para outras funções, e a roda vai rodando. 

O “mundo sem gente” do The Atlantic lembra aquela série do History Channel, “O Mundo Sem Ninguém”, que num exercício bem próximo da ficção científica visualiza em computação gráfica como ficariam nossas cidades dez anos depois do nosso desaparecimento; cem anos; mil anos.

Os ocidentais tiveram durante séculos a certeza de que o mundo está evoluindo (e em muitos aspectos está, sim) e de que nada pode interromper essa evolução (não dá para ter tanta certeza). Mas a civilização é uma estátua feita com palitos de fósforos. Ainda corremos o risco de nos transformar em estranhos no nosso planeta, tentando inutilmente reconstruir o saber tecnológico e conceitual que hoje nos dá a convicção precária de sermos os donos do mundo.