terça-feira, 13 de novembro de 2012

3029) "Operação Skyfall" (13.11.2012)





O novo filme de James Bond, dirigido por Sam Mendes, lembra aqueles sanduíches do Subway, que a gente ajuda a preparar.  Há milhões de combinações possíveis, mas todo sanduíche que eu como é parecido com os anteriores, não importa o quanto eu faça variar os ingredientes. Franquias pop são feitas para funcionar desse jeito, e se algum espectador criticar James Bond por ser assim é o mesmo que criticar um baile de carnaval porque tem muita gente pulando.

Daniel Craig trouxe ao personagem de 007 um realismo rude que estava ausente de espiões charmosos como Sean Connery e Pierce Brosnan. Craig tem físico de estivador, cara de caminhoneiro e fôlego de volante do Chelsea.  É um ator com quem (penso eu) muitos ingleses de origem popular se identificam mais do que com os playboys dos filmes anteriores.  Com ele Bond fica mais realista e menos HQ, e neste filme temos (acho que pela primeira vez na série) revelações sobre sua infância, seus pais, a casa em que foi criado (e onde acontece o clímax devastador do filme).  Como em outros filmes recentes sobre heróis pop (Batman, X-Men, etc.) o mito está se perpetuando através de camadas de realismo psicológico e verossimilhança social. 

O roteiro tem as previsíveis perseguições, infiltrações, etc.  Javier Bardem faz um excelente vilão: blasé, traumatizado, melífluo, insensível, meio infantil... Cada cena sua, cada plano, traz uma expressão facial ou uma inflexão de voz que soma outra característica ao personagem.  O bom vilão é aquele de quem podemos esperar qualquer coisa.  Há duas Bond-girls apenas (a morena Naomie Harris, a asiática Bérénice Lim Marlohe) previsivelmente lindas e perigosas. (Não sei se é minha memória que está alterando as coisas, mas este é um dos filmes mais castos de 007, com uma única, breve e elíptica cena de sexo.) Uma novidade interessante é que Q, o tecno-gênio responsável pelos gadgets de Bond, agora é Ben Wishaw, um geniozinho informático.

O filme é repleto de detalhes que já não sei mais se são citações, homenagens, ou simplesmente o sintoma de “pega aquele troço ali naquela prateleira”. A perseguição de carros numa feira livre é igual a todas as perseguições de carros numa feira livre. O vilão é encerrado numa campânula igualzinha à de Hannibal Lecter.  A descida-aos-infernos inicial é puro Batman. O atentado durante a sessão ministerial é puro “Sherlock Holmes” (a versão Robert Downey). A melhor sequência talvez seja a da ilha abandonada, cheia de prédios em ruínas, onde o vilão instala seu quartel-general, uma metáfora visual rica e não-forçada do que é viver num mundo onde quem manda é um vilão de filme de espionagem.