quinta-feira, 14 de outubro de 2010

2373) Livro Eletrônico Incrementado (14.10.2010)



A Feira do Livro de Frankfurt está recolocando em novos termos a evolução do livro eletrônico e o eterno debate sobre “o Fim do Livro de Papel”. A tendência agora é o que eles chamam de “Livro Eletrônico Incrementado” (“enhanced e-book”). Já vi uns protótipos dele por aí, de diversas fábricas e modelos. As variações são muitas, como em todo produto novo que está tateando o mercado. É um tablete leve, achatado, com uma tela e alguns comandos, e uma memória onde a gente pode descarregar arquivos digitais com milhares de títulos.

Ali você tem a chance de ver o livro em diversos formatos, com as opções de mudar o estilo da fonte, o tamanho da fonte, a cor da fonte, a cor do fundo... Eu sou meio fetichista visual, e gosto de variar o aspecto da minha página. Quando escrevo estes meus artigos, por exemplo, raramente estou usando letras pretas sobre página branca (por acaso, é justamente o que estou usando agora; mas sou honesto, e não mentirei). Em geral gosto de usar (por exemplo) fundo preto com letras brancas em fonte Courier New; ou letras amarelas em fonte Paladino Linotype sobre fundo vermelho; ou letras azul-marinho em fonte Georgia sobre fundo vermelho-claro; e assim por diante. Por que isso? Ora, porque isto me dá uma sensação de enorme liberdade visual, depois de quatro décadas contemplando letras pretas sobre papel branco.

O Incrementado, no entanto, traz muito mais do que isto. Ilustrações à pampa, é claro, sem que isto modifique o preço do livro. Profetizo que o livro eletrônico será o grande mercado para as obras sobre pintura, História da Arte, etc. – imagine só, todas as obras do Louvre, em alta resolução, com opção de zoom nos detalhes, num livro bem levezinho, e pelo mesmo preço dum livro comum! Além disso, o Livro Eletrônico incrementado terá hipertextos com ensaios críticos, históricos, biográficos. Links para fontes específicas na Internet onde será possível baixar arquivos ou informações atualizadas sobre o assunto do livro. Clips de entrevistas com o autor ou com críticos literários; trechos de filmes ou de séries de TV baseadas na obra. Pequenas ilustrações animadas, grande atrativo para os livros infantis. Brincadeiras interativas que darão ao livro um perfil quase de jogo.

Tudo muito bom, mas por alguma razão o gutemberguiano em mim olha isto com desconfiança. Porque na verdade não é o livro que está se expandindo, é o mundo do videogame e da TV que estão se expandindo para dentro do livro. O livro eletrônico é do mesmo tipo sanguíneo que essas coisas, e vai virar um “recebedor universal”. Eu não coloco em momento algum a questão do eletrônico versus papel. O problema aqui é texto versus imagem. Em vez de nos preocuparmos com o fim do livro de papel, deveríamos nos preocupar com o encolhimento do Texto, da Literatura, espremida por mídias mais intuitivas. Estamos inventando, passo a passo, o Livro Para Quem Não Sabe Ler.